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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Posted by Picasa

Um presente para você

Organizando meus antigos cadernos, encontrei a cópia de um discurso que fiz quando fui paraninfa de uma turma do curso de férias da Pedagogia, em São Gabriel. Encerrei o texto com essa mensagem de Gandhi. Não lembro mais de onde a copiei, mas sua mensagem merece ser repetida.
Se eu pudesse deixar algum presente para você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que já foi ensinado pelo tempo afora. Lembraria os erros cometidos para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável, além do pão, o trabalho; além do trabalho, a ação. E quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo, a resposta e a força para encontrar a saída.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Tênis e frescobol




Este texto nos foi disponibilizado no curso de capacitação promovido pela coordenação do Direito da UNIFRA. Rubens Alves medita sobre o casamento, mas a lição serve para qualquer tipo de relacionamentos. Vale a pena ler e refletir.


Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos [relacionamentos] são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: 'Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar".
Scherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, e terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo...". Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, 'eu te amo' não quer dizer mais nada".
É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada – palavra muito sugestiva - que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra -pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá... Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha, para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Rosa com Virgínia no colo- a tia-avó caçula.


Cinco irmãs



Uma, duas, três, quatro, cinco meninas... imagino meu pai recebendo a notícia após o nascimento de suas filhas, com intervalos de um ou dois anos cada uma ... Cinco mulheres e nenhum homem. Eu sou a de número quatro. Não deve ter sido fácil para meus pais essa legião de mulheres, todas com pouca diferença de idade. Mas foi divertido... Muitas brincadeiras e naturalmente muitas brigas. As semelhanças são muitas: gostos para músicas, para filmes, para leituras, para viagens, para roupas, para comida, e com ela a tendência para engordar. Porém, as diferenças também existem, e elas muitas vezes trouxeram desentendimentos, especialmente no período da infância. É fácil reconhecer as principais características: a mais velha, muito criativa e muito cuidadosa consigo mesma; a segunda irmã, a mais simpática, expansiva e alegre; a terceira, mais calma e reservada; eu, muito tímida e envergonhada, e a caçula, a mais temperamental. A vida nos lapidou...A morte levou a irmã mais velha muito cedo, antes de completar os seus cinqüenta anos... A segunda irmã perdeu muito de sua alegria ao sofrer a maior dor do mundo: a perda prematura de uma filha; a terceira irmã recebeu uma tarefa divina de cuidar perpetuamente de uma filha especial; a penúltima irmã, eu mesma, me afastei ainda adolescente da família paterna e também muito cedo me envolvi com minha própria prole e meus próprios problemas; e a caçula, permanece a caçula, com o mesmo temperamento e sempre envolvida com os problemas dos outros. Um detalhe, porém permanece: o espírito de união. Sempre estivemos juntas, senão fisicamente, pelo menos espiritualmente. O tempo e os problemas serviram para solidificar ainda mais nosso afeto e mútua solidariedade. Entre nós existe uma forte ligação, um elo formado pela história de vida em comum. Reconhecemos e respeitamos nossas diferenças, porém o tempo só vem acentuando nossas semelhanças. É importante que seja assim, isso nos traz segurança e fortalecimento. Sei que a maturidade já é nossa companheira, mas nossa infância e juventude ainda se fazem presentes, especialmente quando estamos juntas. Que Deus permita que isso se mantenha ainda por muito tempo. Que assim como, juntas, criamos nossos filhos, possamos também unidas ver nossos netos nascerem e crescerem. Aliás, isso já está acontecendo, e estamos as quatro representando a avó que partiu antes de conhecer a neta. Procuramos desempenhar o seu papel e, ao mesmo tempo, sabemos e confiamos que ela ainda se faz presente, através de nós, suas quatro irmãs mais novas. ( Na foto- Tere, Dete e Ana- em São Lourenço do Sul)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A boa morte




Este texto foi escrito em agosto de 2007. Sadan, nosso grande amigo e companheiro, um rotweiller, morreu com uma injeção letal naquele mês. Foi uma das decisões mais dolorosas que tivemos de tomar. Somente quem já conviveu com um animal tão especial como ele pode entender nossos sentimentos.


Você está partindo... e a hora em que isso vai acontecer tem que ser decidida por nós. Nós que gostaríamos de ir antes de você. Os teus olhinhos, hoje quase escondidos, parecem dizer que sabe dessa decisão que deve ser tomada. Disseram-nos que essa é melhor opção, mas, o que é mais doloroso ainda é definir quando será essa hora. O sofrimento que você passa é também nosso sofrimento. Você que sempre soube nos alegrar, que sempre se preocupou conosco, você que nos ensinou o que é amizade, o que é fidelidade, o que é amor. Você, que durante oito anos, fez seu trabalho de forma admirável, protegendo nosso patrimônio, mas, especialmente, você que foi nosso maior companheiro, presença constante, silenciosa, e muito... muito terna e carinhosa.Vivemos um momento doloroso de nossas vidas, pois precisamos, voluntariamente, privar-nos da sua presença, porém, você está sofrendo e, dia-a-dia, esse sofrimento é maior. Deixará suas marcas conosco, sua coleira, seus tapetes, sempre oferecidos às visitas, seus pratinhos e vasilhas de água, a marca que você deixou no olho da gatinha, seu sofá preferido, sua coberta... Ficará a lembrança de seu latido, a nossa reação instintiva de fechar rapidamente o portão após entrar com o carro, pois você sempre procurava escapar nesse momento... Ficará o teu maior “inimigo”, que ainda hoje, quando você nem mais se levanta, vem procurá-lo no portão para mais uma “sessão de latidos”. Ficarão as fotos, as filmagens, as lembranças dos amigos, pois nenhum cão soube conquistar tantas pessoas como você. Porém, muito mais forte, ficará a tua imagem na nossa memória, pois nós, que já temos tanto tempo de vida a mais do que você, aprendemos muito com a sua companhia e devemos muito a você. Momentos de alegria, de carinho, de dedicação. Durante oito anos de nossa existência, você foi nosso melhor amigo. E agora temos que extinguir a tua vida. Dentro do seu corpo existe um inimigo implacável, cada vez mais visível e ameaçador. Agora sabemos que esse câncer é comum na tua raça, e que ele é incurável. Só podemos auxiliar no combate a sua dor. Essa doença avança de forma rápida demais, o que faz acelerar também nossa tomada de decisão. Decisão pela tua eutanásia, ou seja, pela tua “boa morte”. Você que nos deu uma “boa vida”, receberá de nós uma “boa morte”. É justo esse ônus que a vida nos impõem? Para nós é uma dor enorme, mas esse sofrimento, essa tomada de decisão, é o maior presente que podemos lhe dar: o alívio definitivo para você. Seus amigos, não donos, Renato e Bernadete.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


Despedida


Este mês sai de meu emprego na ULBRA, campus de Cachoeira do Sul, através de uma ação trabalhista onde pedi o reconhecimento de rescisão indireta. Não mais necessitarei viajar para dar aulas em outro Município, o que acontecia desde 1994. Estou satisfeita e triste ao mesmo tempo. Satisfeita por ter resolvido um grande problema, o de não saber quando, quanto e se receberia o salário, instabilidade que vinha me angustiando há sete meses. Triste por saber que vários amigos e colegas permanecem na mesma situação. O trabalho tem uma importância enorme na nossa vida. Ele nos dá dignidade, mas também nos traz amizades, crescimento e realizações pessoais. Lamento demais que a ULBRA esteja passando uma crise tão séria, e que isso seja devido à má administração. Em sete anos de atividades nessa instituição tive muitas alegrias, inclusive reconheço que, somente através desse trabalho, tivemos a possibilidade de construir nossa casa. Porém, o mais gratificante nesse período, foram as relações pessoais estabelecidas, desde o grupo com quem convivi no transporte, aos alunos que passaram por mim e todos os colegas a quem aprendi a respeitar, dividir angústias e compartilhar grandes amizades. Foram muitos os momentos alegres. Infelizmente, também partilhamos grandes angústias e tristezas. Vou levando todas essas lembranças e já cultivando uma grande saudade. Devo destacar, porém, a grande capacidade da direção do campus e da coordenação de meu curso em reconhecer e valorizar o trabalho feito. Eram incansáveis nesse momento. Isso me faz lembrar de uma vez em que entrei no banheiro do Fórum de Santa Maria e me encantei com a limpeza do local. Além de deixá-lo absolutamente limpo e perfumado, a faxineira se preocupava em deixar potes de margarina e latinhas com folhagens simples, mas muito bem cuidadas. Deixei um pequeno cartão que encontrei dentro da minha agenda, um daqueles marcadores de página com mensagens, e nele escrevi um agradecimento à responsável por aquele ambiente. Uma semana após, voltando ao mesmo banheiro, encontrei aquele cartão preso no espelho, numa clara demonstração do orgulho pelo trabalho feito e agradecimento pelo reconhecimento demonstrado. Através dessa mensagem de despedida, estou imitando o gesto dessa faxineira, expressando minha gratidão a todas aquelas palavras e gestos de estímulo. Queridos colegas e alunos, fiquem com Deus e que o futuro da ULBRA seja o da recuperação e sucesso, porque vocês merecem.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


Memórias de infância 2


Quando assisto aos programas de televisão na TV aberta lembro dos primeiros programas que costumávamos assistir quando crianças. Talvez se fossem revistos novamente, não tivessem o encantamento da época, mas deixaram saudades. Tive o privilégio de assistir a Jovem Guarda, em tardes de domingo, na qualidade de televizinha, isto é, na casa de um dos nossos vizinhos. Algumas vezes, eu e minhas irmãs ficávamos espiando para dentro da casa da vizinha pela janela, com a luz apagada, tentando ver um pedaço da tela. Quando a minha família comprou nossa primeira televisão a programação da noite, após a novela, eram os programas de auditório, normalmente com um mestre de cerimônias. Show sem limites, A Família Trapo, A praça da alegria, Programa Flávio Cavalcanti, A grande chance, Essa noite se improvisa, grandes musicais italianos, fazem parte de minha memória. Eram programas de disputas sadias, avaliação de conhecimentos, e expressão da arte com qualidade. Sei que estávamos num período de repressão e muito conteúdo era direcionado exatamente para provocar a alienação do povo brasileiro. Lembro que no programa das tardes de domingo, o primeiro a ser transmitido em rede nacional, o apresentador Flávio Cavalcanti divulgava dados estatísticos sobre o desenvolvimento do Brasil, que nos enchia de orgulho. Na época, a televisão já começava a ditar a moda, costumes e criava algumas “febres”, como os bonequinhos “Topo Gigio”, divulgado por Agildo Ribeiro, ou o “Mug”, divulgado por Wilson Simonal. Os astros de cinemas, até então nossos maiores ídolos, eram trocados pelos astros da televisão. Foi o período de início de sucesso nas carreiras de Toni Ramos, Cláudio Marzo, Denis Carvalho, Regina Duarte, Tarcísio Meira, Glória de Menezes, Ioná Magalhães, Eva Wilma, Aracy Balabaian, Bete Mendes, e outros tantos, que até os dias de hoje, ainda permanecem nas telenovelas. Como lembro de muitas cenas das novelas, roteiros desenvolvidos e reportagens televisivas da época, sei que muitas dessas experiências marcaram minha vida, e me serviram de exemplo. Não sei se tudo o que me marcou, o fez de forma positiva, mas tenho certeza que nada e nenhuma daquelas mensagens trazidas pela televisão da época tinha uma mediocridade tão grande como o que a televisão de hoje nos traz. Que espécie de mensagens e valores que programas como os reality show, programas sensacionalistas que exploram a desgraça alheia, emissoras que se alimentam de fofocas sobre todo e qualquer fato envolvendo as celebridades, estão deixando em nossas crianças e jovens? Quando presto atenção no trabalho feito atualmente pela mídia, principalmente pela televisão, que, com certeza é a maior forma de penetração comunicativa dentro dos lares brasileiros, pergunto a mim mesma se aquela mensagem que tantas vezes ouvimos quando criança, antes de qualquer programação, atestando o papel da censura feita pelo Estado, não teria um certo aspecto positivo.

domingo, 8 de fevereiro de 2009


Memórias de infância 1


Costumo dizer que minha geração foi muito privilegiada. Assistimos grandes revoluções tecnológicas e culturais.Lembro a primeira vez que cheguei próxima a um aparelho de TV, de quanto me admirei ao ver o funcionamento de um fax, do medo que senti ao tentar manipular um computador...Porém, uma das lembranças mais fortes que tenho de minha infância foi da chegada do homem à lua. Para minha geração aquele feito do homem era a verdadeira conquista do espaço. Na época eu tinha nove anos. Minha família tinha uma TV de marca Admiral, logicamente em preto e branco, lembro que tinha detalhes em jacarandá e demorava a funcionar, porque precisava “esquentar”. A programação iniciava no início da manhã e ia até tarde da noite. Mas o horário de assistirmos televisão era muito controlado, para não gastar muita luz. Aliás, na época, a energia elétrica era racionada pela companhia elétrica, mas principalmente pelo meu pai. Naquela noite de 20 de julho de 1969, porém, era uma exceção, e todos estávamos acordados próximo à meia noite. Foi então transmitida ao vivo, a chegada do homem à lua, conduzidos pela Apollo 11. Lembro que a imagem estava de cabeça para baixo (há quem duvide desta minha lembrança, mas a tenho como verdadeira). Houve uma grande emoção quando Neil Armstrong pisou na superfície lunar e fincou a bandeira americana. Os amigos de meu pai, que freqüentavam seu armazém apenas para “bater papo”, afirmavam que tudo era uma grande mentira, alguns achavam que era um pecado contra Deus, e houve quem condenasse esse feito porque achava que a lua tinha perdido todo seu encanto poético. Houve até mesmo histórias que alguém teria se suicidado e muitos defenderam que deveria haver outro marco na história do homem: o início de uma era espacial. Eu era uma das mais entusiasmadas, recortei vários artigos do jornal e lembro que só falava nisso. Decorei o nome dos três astronautas, que viraram heróis de minha infância. Na manhã seguinte ao grande acontecimento, foi correndo contar o que havia acontecido para minha idosa vó Noca, que me escutou pacientemente. Ela morava numa pequena casinha construída no pátio de nossa casa. Quando terminei de falar que tínhamos visto o homem pisar na lua de madrugada, ela me olhou e disse: então foi por isso que ouvi uns barulhos estranhos no pátio, de madrugada. Muitos criticaram o gasto extraordinário que os Estados Unidos tiveram com a corrida espacial, dizendo que esse dinheiro poderia ter servido para matar a fome do homem, aqui mesmo na Terra. Não sei se tinham razão, ou se a corrida espacial teve uma grande utilidade para a humanidade. O que tenho certeza é de que foi um dos momentos mais felizes que passei na minha infância e ao lado da minha família.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ao homem que matou meu cachorro


Este texto foi publicado originalmente em 1955, no Estado de Connecticut. Os sentimentos dos homens em relação aos seus animais não mudam...

“ Espero que V.S. estivesse a caminho de algum lugar importante quando passou pela estrada tão depressa na noite de terça-feira. Talvez nos sentíssemos mais consolados se pudéssemos supor que era um médico indo às pressas fazer um parto, ou aliviar a dor de alguém. A vida de nosso cão para diminuir a dor de alguém; isso poderia consolar um pouco. Mas embora não víssemos senão a sombra escura de seu carro e a trepidação das luzes traseiras quando o senhor saiu em disparado pela estrada, conhecemos muito pouco o seu tipo para acreditar que assim fosse. V. S. Viu o cachorro, pisou no freio, sentiu um baque, ouviu um gemido e depois o grito de minha mulher. Sabemos que seus reflexos são bons, porque V.S. logo meteu o pé no acelerador e foi-se embora depressa. Seja V.S. quem for, é um assassino, e nas suas mãos, a julgar pela maneira de dirigir na terça-feira, à noite, seu carro é uma arma assassina. Como V.S. não se preocupou em olhar, eu lhe direi o que significou o baque. Significaram a vida de Vick, um pequeno basset de seis meses: branco, com manchas castanhas e pretas. Um aristocrata, com 12 campeões entre seus antepassados, mas brincava e corria atrás das coisas e amava as pessoas, as crianças e outros cachorros, com qualquer viralata deste mundo. Lamento que V.S. não tenha parado para ver o serviço que fez, embora um cachorro morrendo à beira da estrada não seja coisa agradável de se ver. Em menos de dois segundos, V.S. transformou um ser vivo, que era belo, quente, limpo, macio e afetuoso, numa coisa suja, feia, estraçalhada e sangrenta. Espero que, no momento em que atropelou meu cachorro, V.S. tenha sentido por um segundo aquela sensação de náusea que nós nunca mais deixamos de sentir. E que V.S. a sinta de novo, cada vez que pensar em dirigir com velocidade numa estrada cheia de curvas. Sim, porque da próxima vez algum menino de oito anos pode estar se equilibrando em sua bicicleta. Ou uma criancinha pequena pode cruzar pode cruzar o portão e sair para estrada, sem saber o que faz, no instante em que seu pai curva-se para arrancar uma erva daninha, como aconteceu quando meu cachorrinho se afastou de mim. Ou talvez V.S. tenha outra vez muita sorte e mate apenas outro cachorro, deixando outra família desolada.”

Pessoas muito especiais


Claudinho é meu amigo. Na verdade ele tem muitos amigos. Sempre troca o meu nome, mas quando me encontra faz um grande alvoroço e faz questão de me abraçar e perguntar como vai meu marido. Ele está sempre muito alegre. Tem uma rotina diária definida há mais de trinta anos. A família diz que sua rotina é como se fosse um compromisso de trabalho: sai de segunda a sexta na mesma hora, passa em vários locais rapidamente, brinca com todo mundo e, no horário certo, retorna para casa. Claudinho é quase um sexagenário, mas é uma criança feliz, melhor ainda, é uma criança que traz momentos de alegria para todos que encontra onde quer que passe. Ele é uma pessoa especial. Luciana é bem mais jovem. Ela não pode sair, mas também estabeleceu uma rotina. Acorda próximo do meio-dia, toma seu café e fica ouvindo atentamente tudo o que se passa em sua volta. Algumas vezes faz fisioterapia ou passeia de carro. Alguns ruídos a irritam, pequenos barulhos contínuos, como escovar alguma coisa. Tem suas músicas preferidas, mas o que ela mais gosta é de estar com a sua mãe, a única pessoa com quem ela se comunica. Adora ficar próxima dela, e só adormece quando a mãe vai deitar. Luciana não tem a mesma rotina das jovens de sua idade, mas ela é feliz. Ela também é uma pessoa especial. Tanto Claudinho como Luciana são portadores de deficiência em áreas e graus diferentes. A Constituição Federal Brasileira e vários textos legais lhes dão uma série de proteção de forma dispersa, como reserva de vagas, política de inclusão, direitos assistenciais... Porém, o maior benefício que a pela Carta Magna lhes proporciona é quando ela coloca a dignidade da pessoa humana como princípio basilar. Antes de portadores de deficiências, Claudinho e Luciana são pessoas e, como tais, devem ser tratadas e respeitadas como qualquer outra, observando-se, porém, um detalhe, são pessoas especiais e pessoas especiais merecem um tratamento especial.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Volte a ser criança


Remexendo em antigos cadernos, encontrei este texto de autoria de Wayne Dyer, retirado de uma edição da década de 80, na revista Seleções. Vale a pena ler e refletir:

“As pessoas me dizem sempre: Você não cresce nunca! Continua o mesmo menininho? Por que não age de acordo com a sua idade? Enquanto me disserem que sou infantil, tudo bem. Gosto de ser criança. Para mim as crianças são como água fresca de moringa. Mais ainda, as pessoas que tenho ajudado a tornarem-se mais acriançadas parecem sentir-se melhor com elas mesmas e com suas vidas.Você é capaz de estar pensando como é que a gente pode voltar a ser criança e continuar a ser um adulto responsável? Um retorno voluntário à infância não significa que você tenha que desistir de ser adulto. Significa só que deve relaxar um pouco, tirar sua máscara de adulto, recordar a forma espontânea que você costumava apreciar o mundo, tudo e todos, com aquele olhar maravilhado.Segundo certa mitologia, existe na Terra uma fonte mágica cujas águas têm a propriedade de restaurar a juventude perdida. Eis cinco caminhos que vão dar nesta fonte:
Riso - A criança que existe em você adora rir. Às vezes as crianças riem por nada, por pura alegria. Se você estiver rindo pouco, tente levar-se um pouco menos a sério. Recorde experiências de sua infância que na altura lhe pareceram tristes, mas que agora merecem um boa risada...e excomungue-as rindo. Quando voltar a acontecer qualquer coisa que o ponha mal-humorado, pergunte a si mesmo: Será que vou poder rir disto mais tarde? Se assim for, por que não rir agora mesmo?
Fantasia - As crianças adoram sonhar, usar a imaginação. O mesmo aconteceria consigo se você deixasse, Aquele mundo da infância, rico em fantasia, não era apenas divertido, era também um dos aspectos mais saudáveis de sua vida. Quanto mais foram encorajadas essas tendências, tanto mais criativo você é hoje. Como adultos também podemos nos dar luxo de fantasiar, pelo bem de nossa saúde mental. Faça uma lista das 20 coisas que há muito sonha fazer, por mais absurdas que sejam. Risque, agora, as fantasias que lhe parecer impossível. Deve ficar pelo menos um sonho que você pode realizar hoje mesmo. Faça-o, depois comece a planejar o segundo mais viável. Gradualmente você irá transformando em realidade muitas de suas fantasias infantis, e a maioria acabarão por constituir proezas bem sólidas.
Espontaneidade - A criança que existe em você morre por ser impulsiva e aventureira. A espontaneidade é, porém, uma das coisas que os adultos mais facialmente reprimem neles próprios...e em seus filhos, incutindo-lhes o medo pelo desconhecido. Se você tem uma vida plenamente planificada, com todos os objetivos pré-determinados, obcecado pela organização, você esqueceu o que é ser criança. Na próxima vez que um amigo lhe fizer um convite, antes de dizer não posso, pergunte a você mesmo se não vale a pena experimentar a mudança. De ouvidos à criança extraviada dentro de você.
Aceitação - Quando o bebê entra no mundo, não pode saber se tudo aquilo podia ou devia ser diferente do que é. Ao crescer, a criança vai aprendendo a controlar certas coisas e convenções. Aqui que começam a surgir os problemas. O jovem adulto se é inflexível quanto ao modo como as coisas deviam ser, costuma ficar bravo com o mundo por ele não corresponder às suas expectativas e exigências.
Confiança - Quando tiver oportunidade, observe duas crianças se encontrando pela primeira vez. Começam timidamente, até se interessarem uma pela a outra, mas, se esse interesse for suficientemente forte, não tardarão a serem amigas. Por quê? Porque confiam uma na outra. Se você costuma reagir friamente quando conhece alguém, isso talvez signifique que seus instintos infantis, naturalmente confiantes, foram corroídos pela desconfiança, o que pode ter origem numa falta de confiança em si próprio, dolorosa fonte de conflito interno. Para aprender a apreciar todas as pessoas que lhe são apresentadas, você vai ter de se deixar levar por você criança.
Essa semana faça o possível e o impossível para conhecer pelo menos uma pessoa que seja muito diferente de você. Confie em que você e ela hão de tirar o melhor proveito da situação. Não se esqueça de que também em seu interlocutor haverá uma criança, e essa criança não deixará certamente de pressentir sua sinceridade - desde que você se sinta à vontade consigo mesmo. Esses cinco caminhos o ajudarão a encontrar a criança que se perdeu dentro de você – essa criança que sabe como lidar de maneira mais eficiente e feliz com tudo e com todos que encontra, liberta de atitudes preestabelecidas. Permitindo-se recapturar essa essência da infância, você vai conseguir ficar em paz consigo mesmo e manter seu coração eternamente jovem.”

Uma nova vida



Os nascimentos no Brasil vêm diminuindo ano a ano. As estatísticas recentemente divulgadas pela mídia apontam para um número de 1,8 filhos por mulher em 2007, contra o índice de 5,76 na década de 80. Segundo o IBGE, homens e mulheres se casam três anos mais tarde do que há uma década, sendo que a média de idade das mulheres é de 26,8 anos, contra 30,2 dos homens. A busca de uma estabilidade econômica antes da geração de filhos, faz com que essa escolha seja cada vez mais tardia, e, muitas vezes essa escolha nem acontece.O nascimento de uma criança sempre é motivo de alegria. É a vida que se renova. Quando nos deparamos com a fragilidade dessa nova vida, percebemos o sentido da nossa existência e o quanto esquecemos desse sentido na loucura de nosso cotidiano. Estamos no mundo para compartilhar sentimentos no espaço que abriga um grupo social tão importante como é a família. Devemos ainda preparar a entrega desse espaço em condições de ocupação para os que virão depois de nós, pois esse lócus afetivo, deve sempre se renovar, para que o ciclo da vida continue. Assim, o nascimento de uma criança tem um sentido de renovação, de recomeço e de fortalecimento nas relações. A boa acolhida desse novo ser é fundamental, pela preciosidade desse acontecimento. Assim, é um acontecimento feliz que surja um novo membro em nossa família, quase vinte anos depois do último nascimento. Parabéns papai e mamãe! Seja muito bem-vinda Virgínia.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

"Seu" Jerônimo, meu pai.


No último dia 17 fez dez anos do falecimento de meu pai. Ele pode ser descrito como uma pessoa simples, sem instrução formal, mas sempre bem informado. Muito amoroso com suas filhas, a quem todos chamavam de “as filhas do Jerônimo”. Cinco filhas. Todas mulheres que encheram sua vida de maneira absoluta, pois, ao contrário de muitas famílias de minha geração, ele é quem permanecia em casa, mantendo um pequeno armazém, enquanto minha mãe saia para lecionar. Meu pai é lembrado por todos que o conheceram pelo seu senso de humor. Ele era simpaticamente irônico. Gostava de música e lembro seus ensaios de passos de dança para nos fazer rir. Brincou com as pessoas até o fim, inclusive com as enfermeiras no hospital. Meu pai morreu como criança. O mal de Alzheimer o fez regredir intelectualmente e isso, de certa forma, fez com ele se ligasse ainda mais às suas filhas, que passaram a ser suas mães. Lembro dele nos cuidando em momentos de doenças infantis. Ele tinha uma vocação inata para a Medicina. Gostava de ler sobre isso e tinha alguns livros de medicina natural. Fazia eu ler as bulas dos remédios e conhecia uma diversidade de chás que costumava recomendar e fornecer gratuitamente para todos que lhe procuravam. Ele era um ecologista, mesmo sem saber, era mestre em economizar. Gostava de frutas, gostava de caminhar, do ar livre, dos animais, de crianças e respeitava demais sua família. Tinha muitos defeitos, mas não lembro mais de nenhum. Tenho muitas saudades do “seu” Jerônimo. Gosto de manter comigo a imagem de seu santo homônimo. Procurei inclusive saber sobre a vida deste famoso tradutor da Bíblia. Descobri que tinha uma inteligência excepcional, estava à frente de seu tempo ( final dos anos 300 ) e deveria ser considerado o protetor dos pesquisadores, pois a sua vida foi dedicada a essa atividade. No candomblé sua imagem também é venerada. É relacionado a Xangô, entidade ligada às questões da justiça, do intelecto e do direito. Reconheço nestes atributos muitas características de meu pai.Mas afinal, o que é um pai? Os estudiosos das relações familiares apontam seu papel legal, social, econômico e afetivo. Dissertam sobre sua função e importância, e consideram que a relação paterna repousa num dado cultural. Para mim, “seu” Jerônimo foi um exemplo de pai: muitas vezes severo e exigente, mas amoroso, brincalhão e terno. Sua imagem nunca sairá da minha memória que é estimulada ainda mais pelo cheiro da erva-mate, das plantas medicinais, pelo gosto da jabuticaba e pelo som das músicas que cantava e dançava, nos fazendo rir.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


A síndrome do ninho vazio X a síndrome do ninho cheio



As publicações que se referem à depressão da mulher na menopausa sempre fazem referência à síndrome do ninho vazio, que é a frustração pela menor necessidade de cuidado com os filhos. Quando eles alçam vôo do lar, seja por estabelecerem economia própria, seja por casamento ou outros motivos, a mãe sente um espécie de rejeição, de vazio, que pode se tranformar numa grande tristeza ou, em casos mais graves, ocasionar uma séria depressão. É natural que isso aconteça, afinal desde o nascimento daquele ser, a relação de dependência sempre existiu, em maior ou menor grau, de acordo com as fases do crescimento. A sensação de "serviço cumprido", neste caso, não é satisfatória, mas pode ser de frustração, de medo do abandono, de ser "dispensada". São comuns as queixas de que os filhos que saem de casa, aos poucos, esquecem do antigo lar. Os telefonemas e as visitas, gradativamente, são mais raros, com exceção de momentos de crise, de um ou de outro lado. este talvez seja o maior motivo da sensação de perda. Na atualidade, esse momento tem sido protelado, isto é, a saída do lar está sendo cada vez mais tardia e às vezes nem acontece. Neste momento, têm-se o que os especialistas têm chamado de síndrome do ninho cheio, que se constitui na frustração pela incapacidade de criar filhos independentes. Tanto uma quanto a outra situação são momentos difíceis para os pais, e merecem um reflexão e uma racionalização para o enfrentamento do momento de crise. Alguém disse que os filhos, quando deixam o ninho levam a nossa verdadeira alma. Seria bom que, neste momento, pais e filhos pudessem dialogar e prestar auxílio mútuo. Que as manifestações de afeto fossem mais evidentes e que a lição de Kahlil Gibran esteja presente, mas também esteja presente a consciência dos filhos no sentido de gratidão pelo que receberam e de que, no futuro, eles estarão no lado oposto.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Amor pelos animais



Cachorro é tudo de bom. Este é o slogan de uma propaganda de ração. A mídia também descobriu que hoje o amor pelos animais é cada vez maior, especialmente cães e gatos. As pesquisas comprovam essa preferência nacional e internacional pelos pequenos amigos do homem, e a mídia cada vez explora mais isso. Um exemplo são os inúmeros quadros televisivos, o sucesso de livros e filmes que tem o cão como personagem principal e, especialmente, a explosão comercial de produtos pet. Realmente, o animal doméstico hoje é um verdadeiro integrante da família. Sua participação na rotina da casa é inegável e cada vez maior. Sem entrar na discussão relativa ao exagêro da humanização dos animais, quero destacar a importância deles na saúde psicológica das pessoas. Lembro que, há muito tempo atrás. li sobre uma experiência em presídios italianos, onde eram criados gatos para servirem de companhia para os presos. Eles deveriam se responsabilizar pelos cuidados com os animais, e os resultados vinham sendo extremamente positivos em todos os sentidos. Nunca mais ouvi falar sobre isso, mas, tenho sabidos de inúmeros casos de depressão, tristezas profundas e grandes preocupações, onde os animais, com suas alegres manifestações, exigência de atenção e carinho e devoção gratuita são verdadeiros remédios e operam milagres. Assim, confirma-se: cachorro é tudo de bom, por isso merecem nosso cuidado e proteção.


Começar é sempre nascer de novo, mas nascer reconstruindo, cada dia, um a um, para não morrer o desejo de viver. (autor desconhecido)
Bem vindos a essa página que hoje se inicia. É uma forma de comunicação admirável, que necessita da entrega e da atenção do outro. Cria uma forma de relacionamento e de ligação entre pessoas que talvez nunca se virão, nem se conhecerão pessoalmente, mas que têm assuntos e interesses em comum. Estou te convidando a começar comigo essa nova etapa comunicativa.



DIRFAM

Este blog tem como proposta valorizar a instituição familiar, independentemente de sua forma de constituição. Visa a comunicação entre pessoas interessadas na área de Direito de Família e Sucessões; Psicologia; Relações Humanas; Economia Doméstica e outros interesses afins.