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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O fim da ´palmadinha que não dói´



Fonte- espaçovital,com,br
(09.12.11)
Por Luís Gustavo Andrade Madeira,
advogado (OAB-RS nº 15.816) e professor universitário
"A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe" (Provérbios - 29:15).
Qual a verdadeira função de ensinar corretamente? Até que ponto a missão de educar dos pais pode extrapolar os seus limites? Estas questões não têm encontrado solução pacífica entre estudiosos da ciência da educação, uma área nitidamente envolvida com o conhecimento humano.
O recém nascido vem ao mundo com a sua percepção das coisas e o seu intelecto sem nenhuma carga de conhecimento, sua memória nada possui de concreto, a não ser sensações sonoras e tácteis adquiridas durante a gestação. Assim, é que depende do meio em que se desenvolve a aquisição de sua percepção e do seu intelecto.
Daí por diante, desde a primeira luz, a criança passa a receber uma imensurável gama de informações, que vão desde o seu comportamento em casa, na escola e socialmente, até mesmo a influência na escolha de sua religião ou preferência sexual.
Há uma evolução constante nesta (trans)formação, que não pode ser deixada solta, sem parâmetros de conduta e sem controle externo. Desta forma, é que o papel dos pais ou dos responsáveis por esta evolução deve ser de constante vigília e de pronta correção quando a situação o exigir, mesmo que para tanto a reprimenda deixe o mundo das palavras para ingressar no contato físico.
É aqui que se coloca a discussão. Ficar o ensino apenas no mundo das palavras, ou adentrar, também, no contato físico quando as palavras não resolvem ?
Tenho visto situações onde a hierarquia se inverte. A criança é quem determina o mando da ocasião, aos berros, com chutes e pontapés às vezes, para sobrepor a sua vontade aos adultos encarregados de sua educação. Casos em que presenciei mães desesperadas, sofrendo com toda a cena do filho pequeno, quando, ao meu sentir, bastaria um basta enérgico, uma postura de quem é o regente e não o regido.
Se tal atitude não resolve, o emprego do contato físico, de forma moderada, soluciona na grande maioria dos casos. O tapinha não dói é um remédio eficaz, que infelizmente está com seus dias contados.
Muitas ocasiões se apresentaram em que os de minha geração sentiram na pele a palmada educativa, e cada vez mais tínhamos maior respeito por nossos pais, não pelo corretivo, mas eles demonstravam a hierarquia, o limite de tudo e para tudo. Não foi por causa de uma palmada aplicada na hora certa que eu deixei de respeitar meus pais. Ao contrário, nutro por eles o mesmo e incondicional respeito até hoje.
Jamais se tratou de um respeito medroso, mas um respeito respeitador, por respeito, meramente.
Lembro, em certa ocasião, neguei o meu assento no bonde (bonde, mesmo!) para uma senhora idosa, com pelos esparsos pelo queixo (sim, ela tinha cavanhaque, e por isso encrenquei !), em que vinha do centro de Porto Alegre ao Bairro Petrópolis com minha mãe. Ao chegarmos em casa, fui pego de surpresa por ela, quando pela primeira vez, aos meus seis anos, senti o som da cuíca roncando.
Uma senhora surra! Muito feia, mesmo! Coisa ruim de presenciar, mesmo à distância. Mas, desde esse momento, busquei sempre respeitar aos mais idosos, pois de alguma maneira entendi o sentido da convivência em sociedade. Uma lição para memorizar...
Fiz esta introdução, para situar o problema, pois está colocado em discussão na Câmara de Deputados, o Projeto de Lei nº 7.672/2010, que proíbe todo tipo de castigo físico, ameaças e humilhações contra crianças e adolescentes; e quem desrespeitar a futura lei estará sujeito a um processo judicial acompanhado de tratamento psicológico obrigatório.
Não sei até que ponto esta legislação terá êxito. Acredito que se tratará de mais uma lei jogada nas teias do esquecimento, pois será de difícil operação e visualização de todos os casos de castigo físico.
Lembro que todo o castigo físico, imoderamente dirigido pelo adulto à criança, se dá entre as quatro paredes do lar familiar, ficando de difícil conhecimento público, salvo quando se tratar de casos onde fiquem registradas as marcas do castigo na pele ou lesões nos órgãos internos do menor, ou que os gritos de dor sejam tantos que despertem a curiosidade de vizinhos, capazes de oferecer uma denúncia anônima, como é permitido.
Não sei, também, se esta liberação da reprimenda física moderada não é a forma de piorar o quadro comportamental de nossos adolescentes, cada vez mais preocupante, cada vez mais agressivo e cada vez mais desrespeitoso! Digo isto como alguém que faz do seu trabalho o convívio com jovens, lecionando em várias universidades, num contato permanente. Ouço relato de professores mais idosos que não têm o mínimo respeito de seus alunos, tudo em razão da total falta de disciplina destes em muitos casos. A disciplina está sendo colocada de lado para dar lugar à libertinagem e à auto-determinação sem medidas, onde o que vale é a individualidade e não o coletivo!
A minha geração - acredito que de muitos dos leitores seja a mesma - é uma geração que se encontra em permanente impasse, quase sem parâmetros de como melhor agir ou conduzir nossos filhos. De um lado, minha geração deve reverência e obediência irrestritos aos pais, protegidos por uma educação que vem de muitas outras gerações passadas, vingando sempre o indispensável respeito e a mais completa disciplina; de outro lado, nos é imposto pela sociedade o respeito aos nossos filhos, seres intocáveis fisicamente, não podendo ser por nós exercida sobre eles a mesma educação que recebemos .
Mas, e quem nos respeita? Seremos nós, os integrantes desta geração, os que ficam apenas para contar a história dos antepassados, de como era a educação, e, ao mesmo tempo, esperarmos os efeitos desta atual deseducação para o futuro, inertes e sempre tentando usar a palavra com os nossos filhos, sem contato físico? E se a palavra não adiantar? Será o Governo ou serão os psicólogos e os pedagogos de plantão (muitos que sequer tiveram filhos para viver a verdadeira experiência de educar) que irão ensiná-los?
Uma das premissas do projeto de lei está em que a violência gera mais violência. Mas, e quando os filhos são educados pela diretriz do ‘não castigo’ e se vêem envolvidos nas verdadeiras batalhas campais das chamadas guerras entre torcidas nos estádios e nas ruas, que ocasionam medo, destruição, agressão e morte?
Sguramente, muitos de seus participantes, líderes destas gangues, tenham sido educados apenas com palavras. Eu não recordo de brigas de gangues e de torcidas ocorridas nos anos 70 ou até meados dos 80. O resultado está aí...
O assunto não encontra paz se analisado em uma ótica coletiva. Seja como for, iremos colher pesados resultados num futuro próximo.
Uma opção é certa: a de que não ocorra o menosprezo pelo filho ou pelo educando. Preferível a moderada palmada, ao descaso, pois é do descaso ou do descontrole na educação que nasce a desobediência, e esta está a um passo da anarquia em uma sociedade !
É como penso! Sujeito a palmadas!

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