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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Relação amorosa com o filho do padrasto



Nunca teria sido tão fácil para a estudante Isabel Lima Ferreira, de 22 anos, dispensar um paquera indesejável. um paquera indesejável. “Mas você é meu irmão”, poderia dizer às investidas do filho de seu padrasto, o técnico em segurança André Nunes Filho, de 26 anos. A questão é que o paquera não era indesejável: o sentimento que um tinha pelo outro, assim como o dos personagens de Fernanda Vasconcellos (Ana) e Rafael Cardoso (Rodrigo), da novela A Vida da Gente, era mais que fraternal. E tampouco eles eram irmãos: um era enteado do pai ou da mãe do outro, um caso como o dos protagonistas da nova trama das seis da Globo. Com as novas formações familiares, nascidas do aumento de divórcios e recasamentos, a tendência é que encontros como esse se tornem numerosos.Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que em 25 anos, de 1984 a 2009, houve um expressivo aumento no número de casamentos entre brasileiros divorciados. No período, cresceu sete vezes a quantidade de mulheres que se casaram novamente e cinco vezes a de homens que subiram ao altar após o divórcio. Em 1984, 10.592 divorciadas oficializaram união pela segunda vez, número que subiu para 71.125 em 2009. Entre os homens, 20.738 divorciados voltaram a se unir maritalmente em 1984. Em 2009, um volume muito maior o fez: 101.268.

Quando o recasamento se dá entre pais de filhos já crescidos, há chances de que um outro casal, além daquele que forma a nova família, apareça. “Nesta realidade de famílias que se decompõem e se recompõem, os recortes e possibilidades são inúmeros”, diz Lícia Manzo, autora de A Vida da Gente. Na trama de Lícia, Ana e Rodrigo se conhecem por volta dos dez anos, quando a mãe dela (Eva, papel de Ana Beatriz Nogueira) e o pai dele (Jonas, Paulo Betti) se casam. Nessa idade, um já não vê o outro como irmão. Os laços familiares, biológicos ou sócio-afetivos, são firmados nos seis primeiros anos de vida, segundo o psiquiatra José Raimundo Lippi, coordenador do Ambulatório Especial de Acolhimento e Tratamento de Famílias Incestuosas (Amefi).A situação é similar à do casal Isabel e André. Bel, como é chamada a menina, tinha 14 anos quando a mãe se casou com o pai de André. No ano seguinte, o garoto passou a morar com o pai – e, por tabela, com Isabel e sua mãe. A empatia foi imediata. “A gente sempre foi muito amigo, conversava muito. Até o dia em que rolou o primeiro beijo”, lembra a menina. Assim como na trama de Lícia Manzo, o casal manteve o relacionamento em segredo por um tempo, com medo da reação dos pais. Ao fim de seis meses, ao abrir o jogo, enfrentaram a esperada resistência. “Minha mãe não gostou muito da novidade. Ela dizia que não éramos marido e mulher para viver juntos, então, ele foi morar com o irmão”, conta Bel.Atualmente, após cinco anos de namoro, Isabel e André planejam casamento, previsto para o próximo ano. “Pelo menos, vamos economizar nos convites, já que nossos familiares são os mesmos”, brinca Isabel.Outro caso de paixão entre enteados também aconteceu entre duas pessoas que se conheceram depois de crescidas. A empresária Laura*, de 33 anos, conta que namorou o filho de seu padrasto durante um ano e meio. Sua mãe e o pai dele se juntaram quando ela tinha 18 anos e ele, 17. A chama da paixão acendeu mesmo quando ela saiu de São Paulo e foi morar com a mãe e o padrasto em Brasília. “Foi um dos sentimentos mais fortes que já senti. Sempre achamos que os nossos pais haviam ficado juntos apenas para a gente se conhecer”, conta a empresária. Os dois até tentaram esconder o namoro, mas, por morarem na casa dos pais, a farsa não durou muito. “Foi a maior confusão quando nossos pais descobriram, mas depois aceitaram”, lembra Laura. Só houve conflito de fato quando o namoro entre os enteados deu os primeiros sinais de crise. “Nossas brigas provocavam desentendimentos entre a minha mãe e o meu padrasto, cada um protegia seu filho nas discussões.” Algum tempo depois, a relação terminou. Hoje em dia, o casal se encontra em reuniões de família. “Hoje consigo admirá-lo. Consigo vê-lo como um irmão.”

André e Isabel pretendem se casar no próximo ano

A resistência dos pais, e por vezes da sociedade, em cada caso se explica pelo papel que os enteados aparentemente ocupam numa nova família, fruto de outras duas: o de irmãos. O psiquiatra Lippi lembra, no entanto, que a situação é diferente. “A relação não é considerada incestuosa porque eles não se veem como irmãos, nem mesmo emocionalmente. Quando seus pais se casaram, já haviam passado da fase preliminar do desenvolvimento cognitivo”, explica.A psicanalista Suely Gevertz, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é da mesma opinião. “Diante dessas novas formações familiares, é preciso repensar certos preconceitos básicos. O impedimento para as relações amorosas entre enteados, na maioria das vezes, existe apenas por parte dos pais ou da sociedade”, diz Do ponto de vista jurídico, também não há qualquer impedimento para esse tipo de relação. Segundo o advogado familiar Rodrigo Tannuri, não existe, sob a ótica da lei, qualquer grau de parentalidade entre Isabel e André ou Laura e o filho de seu padrasto. “Há apenas uma relevância especial se o casal era muito novo quando seus pais se conheceram, o que pode configurar laços sócioafetivos”, explica.
fonte- Veja on line

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