The New York Times News Service11/02/2012 02h38 (Zero Hora)
Testes de DNA ajudam adotados a encontrar suas famílias
Um número crescente de pessoas vê nos exames uma esperança de completar o quebra-cabeça das suas origens
Na infância, Khrys Vaughan tinha certeza de que havia herdado a aparência e os maneirismos do pai, e que sua admiração pela tradição e gentileza à moda antiga certamente faziam parte das raízes sulistas dele e de sua mãe. Porém, quando tinha 42 anos, tais facetas de sua autoimagem desmoronaram: contaram-lhe que ela tinha sido adotada.
Ela iniciou uma busca para encontrar os pais biológicos, mas descobriu que os registros de sua adoção haviam sido feitos de modo sigiloso, uma prática comum na década de 1960. Vaughan então encontrou por acaso um anúncio de uma empresa que oferecia testes de DNA para ajudar pessoas que foram adotadas a encontrar pistas sobre seus antepassados e ligações com seus familiares biológicos.
Cerca de cinco semanas após ter enviado dois frascos pequenos contendo células colhidas da parte interna de sua bochecha, Vaughan recebeu um e-mail dizendo que suas origens se estendiam até França, Romênia e África Ocidental. Ela também recebeu nomes e e-mails de uma dúzia de primos distantes. Mês passado, dirigiu 330 quilômetros daqui, sua cidade natal, até Evansville, Indiana, para conhecer um primo seu de terceiro grau, um dos primeiros parentes na lista a lhe responder por e-mail. Vaughan é negra e sua prima é branca, e elas ainda não descobriram qual ancestral têm em comum. Mas ela disse que isso não importa.
— Existe alguém nesse mundo tem um grau de parentesco comigo — disse ela. —Alguém tem o meu sangue. Posso olhar para essa pessoa e dizer: 'Somos da mesma família'.
Um número crescente de adotados, que hoje em dia chegam a quase milhares, estão buscando as empresas de testes de DNA na esperança de completar o quebra-cabeça das suas origens. Muitos procuram saber se as suas árvores genealógicas começam na Irlanda, Itália, Europa ou América do Sul. Outros procuram saber se são geneticamente predispostos a ter diabetes, câncer ou outras doenças. A maioria dos adotados procura informações que os levem até seus pais biológicos, mas alguns também estão expandindo sua concepção de família ao encontrarem uma enorme quantidade de familiares mais distantes, como primos de segundo, terceiro e quarto graus.
As empresas que fazem testes de DNA estão intensificando suas medidas para alcançar toda essa comunidade, publicando anúncios em fóruns de adoção e testemunhos em seus sites. Alguns adotados e entidades que os auxiliam também estão ajudando a divulgar o serviço.
— Nunca houve um momento melhor para descobrir a sua identidade biológica — diz o site da Adoption.com, que divulga suas iniciativas de reunir adotados e seus parentes biológicos na Internet.
Os testes de DNA têm aumentado em popularidade na última década, à medida que o custo da análise de amostras de células diminui e os americanos estão cada vez mais interessados em conhecer suas raízes. Como resultado, algumas empresas têm acumulado amostras de DNA suficientes para poder ajudar os interessados a encontrar seus pais biológicos, trazendo esperança para pessoas que nasceram em uma era em que os registros de adoção eram comumente mantidos em sigilo, deixando poucos documentos como rastro a ser seguido.
Muitas empresas oferecem testes que conseguem confirmar se os adotados têm alguma relação com pessoas que já conhecem. Outras abrangem uma rede mais ampla, ligando os resultados de DNA a um banco de dados que contém dezenas de milhares de amostras genéticas, a maioria de pessoas à procura de suas raízes ancestrais. Os testes detectam rastros genéticos que revelam se as pessoas têm um parente ou ancestral em comum.
Alguns especialistas em adoção e genética têm criticado as empresas que se oferecem para pesquisar a árvore genealógica ou os antepassados das pessoas, dizendo que elas estão, muitas vezes, fazendo ligações genéticas muito distantes — expandindo, na verdade, a definição do que é ser um parente. No entanto, a crescente popularidade dos testes, combinada às redes sociais que conectam as pessoas diariamente, tem providenciado a alguns adotados uma concepção de família que parece tangível, íntima e imediata.
Poucos minutos depois de ter recebido os nomes de seus parentes distantes, Vaughan, gerente de projetos freelancer, estava admirando as fotografias de seus parentes no Facebook. Outra adotada que encontrou integrantes de sua família por meio de testes de DNA, a produtora de milho Kathy Borgmann, 49, da cidade de New Palestine, Indiana, trocou e-mails com primos que a deixaram muito feliz ao dizerem: "Bem-vinda à família".
Alan Bogner ,de Olympia, Washington, sentiu tamanho parentesco com seus recém-descobertos primos de segundo e terceiro grau que participou de uma reunião de família em Iowa. Ele descobriu, entre outras coisas, que muitos deles também eram altos — ele tem 1,93 metro — e que compartilhavam do seu ponto de vista político liberal.
— Parece bobagem, mas eles são muito parecidos comigo — disse Bogner, de 54 anos, que trabalha para o gabinete do governador.
Mas os testes têm suas limitações. O preço pode variar de 99 a 500 dólares, o que os deixa fora do alcance de algumas pessoas. As empresas também alertam que é muito mais comum encontrar primos de segundo e terceiro grau do que os pais biológicos ou até mesmo irmãos.
Neil Schwartzman, de Montreal, teve sorte quando seu teste o levou a encontrar sua irmã
— Fiquei chocado — lembrou ele.
Mas esses casos não costumam acontecer.
As empresas afirmam que as chances estão melhorando, pois cada vez mais pessoas estão pagando pelos testes e assim adicionando seu DNA aos bancos de dados. Duas empresas — a Family Tree DNA e a 23andMe — têm um banco de dados que contêm amostras de 350 mil e 125 mil pessoas, respectivamente, e seus executivos afirmam que os números estão aumentando. Nos últimos anos, cerca de nove mil clientes se identificaram como sendo adotados, mas funcionários acreditam que esse número na verdade é maior, já que nem todos expõem seus motivos para realizar os testes.
Para alguém que procura por um familiar, "talvez não exista ninguém no banco de dados hoje, mas, em dois anos, uma prima de primeiro grau pode aparecer”, disse Anne Wojcicki, diretora-executiva da 23andMe.
As empresas de testes de DNA, que concorrem por clientes, não compartilham os seus bancos de dados. Por isso, muitas pessoas enviam amostras para mais de uma delas.
Nem todo mundo tem vontade de encontrar novos familiares. Alguns adotados que encontraram certas pistas genéticas de seus antepassados foram rejeitados por parentes distantes. A maioria das pessoas faz os testes de DNA para preencher lacunas em suas árvores genealógicas, não para encontrar novos membros de sua família. Bogner disse que vários de seus primos identificados pelos testes de DNA pararam de se comunicar com ele quando ficaram sabendo que ele era adotado.
— Foi muito decepcionante — disse ele.
Elizabeth Bartholet, especialista em adoção da Faculdade de Direito de Harvard, disse que a proliferação dos testes chama atenção para a necessidade de um acesso mais amplo aos registros de adoção. Enquanto isso, disse ela, seria melhor que os adotados cultivassem os vínculos que já têm.
Mas Vaughan, que hoje tem 44 anos, disse que seus parentes recém-encontrados preencheram um vazio em sua vida. Seu pai adotivo morreu quando ela tinha nove anos e ela havia se consolado, ao longo dos anos, com a ideia de que tinha o sorriso parecido com o dele.
— Chorei por não ser a filhinha querida do papai — disse Vaughan, descrevendo o dia em que sua mãe adotiva finalmente lhe disse a verdade. — Precisava encontrar o meu lugar no mundo.
Ela enviou o primeiro e-mail para uma prima identificada pela Family Tree DNA em março. Ele foi parar na caixa de entrada de Jennifer Grigsby, uma analista de pesquisas que vive em Somerset, Kentucky, que ficou espantada ao lê-lo. Grigsby tinha feito um teste de DNA para saber mais sobre sua linhagem.
— Eu não estava procurando por um novo vínculo — disse ela. Mas quando as duas mulheres começaram a conversar, "uma ligação instantânea se manifestou", disse Grigsby, de 37 anos.
Semana após semana, elas trocaram e-mails e mensagens pelo Facebook, e conversaram por telefone cerca de duas vezes ao mês. Algumas semanas atrás, decidiram se encontrar em Evansville, a meio caminho entre suas casas. Três dias antes do encontro, Vaughan ficou sabendo da identidade de sua mãe biológica. Os tribunais haviam determinado que sua mãe tinha morrido em 2005, o que significava que seu nome poderia finalmente ser liberado. A descoberta fez com que ela encontrasse quatro irmãs.
Grigsby disse que elas poderiam cancelar o encontro para que Vaughan pudesse entrar em contato com suas irmãs. Mas Vaughan não quis. Recentemente, dirigiu mais de três horas para encontrar a primeira parente de sangue que a abraçou como família.
— Finalmente! — disse, quando se encontraram. Depois, abraçou a prima de terceiro grau como se nunca mais fosse soltá-la.
Testes de DNA ajudam adotados a encontrar suas famílias
Um número crescente de pessoas vê nos exames uma esperança de completar o quebra-cabeça das suas origens
Na infância, Khrys Vaughan tinha certeza de que havia herdado a aparência e os maneirismos do pai, e que sua admiração pela tradição e gentileza à moda antiga certamente faziam parte das raízes sulistas dele e de sua mãe. Porém, quando tinha 42 anos, tais facetas de sua autoimagem desmoronaram: contaram-lhe que ela tinha sido adotada.
Ela iniciou uma busca para encontrar os pais biológicos, mas descobriu que os registros de sua adoção haviam sido feitos de modo sigiloso, uma prática comum na década de 1960. Vaughan então encontrou por acaso um anúncio de uma empresa que oferecia testes de DNA para ajudar pessoas que foram adotadas a encontrar pistas sobre seus antepassados e ligações com seus familiares biológicos.
Cerca de cinco semanas após ter enviado dois frascos pequenos contendo células colhidas da parte interna de sua bochecha, Vaughan recebeu um e-mail dizendo que suas origens se estendiam até França, Romênia e África Ocidental. Ela também recebeu nomes e e-mails de uma dúzia de primos distantes. Mês passado, dirigiu 330 quilômetros daqui, sua cidade natal, até Evansville, Indiana, para conhecer um primo seu de terceiro grau, um dos primeiros parentes na lista a lhe responder por e-mail. Vaughan é negra e sua prima é branca, e elas ainda não descobriram qual ancestral têm em comum. Mas ela disse que isso não importa.
— Existe alguém nesse mundo tem um grau de parentesco comigo — disse ela. —Alguém tem o meu sangue. Posso olhar para essa pessoa e dizer: 'Somos da mesma família'.
Um número crescente de adotados, que hoje em dia chegam a quase milhares, estão buscando as empresas de testes de DNA na esperança de completar o quebra-cabeça das suas origens. Muitos procuram saber se as suas árvores genealógicas começam na Irlanda, Itália, Europa ou América do Sul. Outros procuram saber se são geneticamente predispostos a ter diabetes, câncer ou outras doenças. A maioria dos adotados procura informações que os levem até seus pais biológicos, mas alguns também estão expandindo sua concepção de família ao encontrarem uma enorme quantidade de familiares mais distantes, como primos de segundo, terceiro e quarto graus.
As empresas que fazem testes de DNA estão intensificando suas medidas para alcançar toda essa comunidade, publicando anúncios em fóruns de adoção e testemunhos em seus sites. Alguns adotados e entidades que os auxiliam também estão ajudando a divulgar o serviço.
— Nunca houve um momento melhor para descobrir a sua identidade biológica — diz o site da Adoption.com, que divulga suas iniciativas de reunir adotados e seus parentes biológicos na Internet.
Os testes de DNA têm aumentado em popularidade na última década, à medida que o custo da análise de amostras de células diminui e os americanos estão cada vez mais interessados em conhecer suas raízes. Como resultado, algumas empresas têm acumulado amostras de DNA suficientes para poder ajudar os interessados a encontrar seus pais biológicos, trazendo esperança para pessoas que nasceram em uma era em que os registros de adoção eram comumente mantidos em sigilo, deixando poucos documentos como rastro a ser seguido.
Muitas empresas oferecem testes que conseguem confirmar se os adotados têm alguma relação com pessoas que já conhecem. Outras abrangem uma rede mais ampla, ligando os resultados de DNA a um banco de dados que contém dezenas de milhares de amostras genéticas, a maioria de pessoas à procura de suas raízes ancestrais. Os testes detectam rastros genéticos que revelam se as pessoas têm um parente ou ancestral em comum.
Alguns especialistas em adoção e genética têm criticado as empresas que se oferecem para pesquisar a árvore genealógica ou os antepassados das pessoas, dizendo que elas estão, muitas vezes, fazendo ligações genéticas muito distantes — expandindo, na verdade, a definição do que é ser um parente. No entanto, a crescente popularidade dos testes, combinada às redes sociais que conectam as pessoas diariamente, tem providenciado a alguns adotados uma concepção de família que parece tangível, íntima e imediata.
Poucos minutos depois de ter recebido os nomes de seus parentes distantes, Vaughan, gerente de projetos freelancer, estava admirando as fotografias de seus parentes no Facebook. Outra adotada que encontrou integrantes de sua família por meio de testes de DNA, a produtora de milho Kathy Borgmann, 49, da cidade de New Palestine, Indiana, trocou e-mails com primos que a deixaram muito feliz ao dizerem: "Bem-vinda à família".
Alan Bogner ,de Olympia, Washington, sentiu tamanho parentesco com seus recém-descobertos primos de segundo e terceiro grau que participou de uma reunião de família em Iowa. Ele descobriu, entre outras coisas, que muitos deles também eram altos — ele tem 1,93 metro — e que compartilhavam do seu ponto de vista político liberal.
— Parece bobagem, mas eles são muito parecidos comigo — disse Bogner, de 54 anos, que trabalha para o gabinete do governador.
Mas os testes têm suas limitações. O preço pode variar de 99 a 500 dólares, o que os deixa fora do alcance de algumas pessoas. As empresas também alertam que é muito mais comum encontrar primos de segundo e terceiro grau do que os pais biológicos ou até mesmo irmãos.
Neil Schwartzman, de Montreal, teve sorte quando seu teste o levou a encontrar sua irmã
— Fiquei chocado — lembrou ele.
Mas esses casos não costumam acontecer.
As empresas afirmam que as chances estão melhorando, pois cada vez mais pessoas estão pagando pelos testes e assim adicionando seu DNA aos bancos de dados. Duas empresas — a Family Tree DNA e a 23andMe — têm um banco de dados que contêm amostras de 350 mil e 125 mil pessoas, respectivamente, e seus executivos afirmam que os números estão aumentando. Nos últimos anos, cerca de nove mil clientes se identificaram como sendo adotados, mas funcionários acreditam que esse número na verdade é maior, já que nem todos expõem seus motivos para realizar os testes.
Para alguém que procura por um familiar, "talvez não exista ninguém no banco de dados hoje, mas, em dois anos, uma prima de primeiro grau pode aparecer”, disse Anne Wojcicki, diretora-executiva da 23andMe.
As empresas de testes de DNA, que concorrem por clientes, não compartilham os seus bancos de dados. Por isso, muitas pessoas enviam amostras para mais de uma delas.
Nem todo mundo tem vontade de encontrar novos familiares. Alguns adotados que encontraram certas pistas genéticas de seus antepassados foram rejeitados por parentes distantes. A maioria das pessoas faz os testes de DNA para preencher lacunas em suas árvores genealógicas, não para encontrar novos membros de sua família. Bogner disse que vários de seus primos identificados pelos testes de DNA pararam de se comunicar com ele quando ficaram sabendo que ele era adotado.
— Foi muito decepcionante — disse ele.
Elizabeth Bartholet, especialista em adoção da Faculdade de Direito de Harvard, disse que a proliferação dos testes chama atenção para a necessidade de um acesso mais amplo aos registros de adoção. Enquanto isso, disse ela, seria melhor que os adotados cultivassem os vínculos que já têm.
Mas Vaughan, que hoje tem 44 anos, disse que seus parentes recém-encontrados preencheram um vazio em sua vida. Seu pai adotivo morreu quando ela tinha nove anos e ela havia se consolado, ao longo dos anos, com a ideia de que tinha o sorriso parecido com o dele.
— Chorei por não ser a filhinha querida do papai — disse Vaughan, descrevendo o dia em que sua mãe adotiva finalmente lhe disse a verdade. — Precisava encontrar o meu lugar no mundo.
Ela enviou o primeiro e-mail para uma prima identificada pela Family Tree DNA em março. Ele foi parar na caixa de entrada de Jennifer Grigsby, uma analista de pesquisas que vive em Somerset, Kentucky, que ficou espantada ao lê-lo. Grigsby tinha feito um teste de DNA para saber mais sobre sua linhagem.
— Eu não estava procurando por um novo vínculo — disse ela. Mas quando as duas mulheres começaram a conversar, "uma ligação instantânea se manifestou", disse Grigsby, de 37 anos.
Semana após semana, elas trocaram e-mails e mensagens pelo Facebook, e conversaram por telefone cerca de duas vezes ao mês. Algumas semanas atrás, decidiram se encontrar em Evansville, a meio caminho entre suas casas. Três dias antes do encontro, Vaughan ficou sabendo da identidade de sua mãe biológica. Os tribunais haviam determinado que sua mãe tinha morrido em 2005, o que significava que seu nome poderia finalmente ser liberado. A descoberta fez com que ela encontrasse quatro irmãs.
Grigsby disse que elas poderiam cancelar o encontro para que Vaughan pudesse entrar em contato com suas irmãs. Mas Vaughan não quis. Recentemente, dirigiu mais de três horas para encontrar a primeira parente de sangue que a abraçou como família.
— Finalmente! — disse, quando se encontraram. Depois, abraçou a prima de terceiro grau como se nunca mais fosse soltá-la.
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