ZH-29 de junho de 2013
O movimento francês começou com greves de estudantes, se
fortaleceu com a repressão policial e acabou absorvendo causas diversas. Como
hoje, havia um clamor por “mudança de valores”. Cartazes com ideias novas sobre
família, sexo, educação e trabalho antecipavam muitas das mudanças de
comportamento que seriam assimiladas nos anos seguintes em boa parte das
democracias ocidentais. Havia insatisfação política, evidentemente, mas o que
eclodiu em 1968 foi menos o tradicional conflito entre esquerda e direita do
que o simples e belo desbunde generalizado. O 2013 brasileiro e o que vem acontecendo, desde 2008, em
países tão diferentes quanto Islândia, Egito, Espanha e Estados Unidos, por
diferentes motivos, têm em comum a forma como os movimentos se articularam na
rede antes de chegarem à rua. Como aconteceu com o Maio de 68, o futuro deve se
encarregar de confirmar o quanto esses movimentos apontam para alguma espécie
de tendência global – como a revolução dos costumes dos anos 60 foi de certa
forma anunciada pelas revoltas de Paris.
Desde já, cotejar as insatisfações dessas duas gerações de
manifestantes, os baby-boomers de 68 e a Geração Y dos anos 2010, pode ser
revelador. Nos anos 60, era o desejo que pedia passagem nos slogans da rua (“As
reservas impostas ao prazer excitam o prazer de viver sem reserva”). Os jovens
viam no professor, no pai, no patrão figuras que se colocavam entre eles e o
cabelo comprido, o rock, o sexo sem compromisso.
Nos anos 2010, o professor, o pai e mesmo o patrão se sentem
coagidos a partilhar da visão de mundo dos jovens em vários aspectos. Seus pais
(avós?) ganharam essa parada por eles: adultos não são o inimigo. (Slogan de
Maio de 1968: “Professores, vocês fazem-nos envelhecer”. Slogan de Junho de
2013: “Professor, eu desejo a você o salário de um deputado e o prestígio de um
jogador”.)
O que esses garotos querem se já podem quase tudo? Palpite:
transferir para a esfera pública o poder a que se acostumaram na esfera
privada, espanar as teias de aranha da democracia e, se possível, reinventar a
pólis como outras gerações reinventaram a família e o trabalho. “Corra, camarada, o velho mundo está atrás de você.” 1968 ou 2013? Tanto faz.
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