Foi encontrada no meio dos carros, no estacionamento de um ginásio
de futebol. Não sei se estava perdida ou abandonada, mas já era uma jovem
cadelinha com pelo dourado e brilhante. Meu marido a trouxe para casa porque
tinha grande risco de ser atropelada naquele local. Se “aquerenciou”
rapidamente na nossa casa. Também muito rapidamente demonstrou sua forte
personalidade, sempre muito atenta e defensora de seu espaço. Rapidamente
ganhou o respeito dos outros cães. E foi assim com mais de uma geração deles,
porque ela sobreviveu a muitos outros animais de estimação.
Muito cedo, na primeira vez em que a levamos no veterinário,
soubemos que aos poucos deixaria de caminhar, por ter uma lesão na coluna.
Porém, nunca desistiu de se movimentar sozinha. Primeiro usando apenas as patas
da frente. Fraturou nessa prática um dos membros dianteiros e a sua cauda.
Depois perdeu o movimento de um de seus bracinhos e os ossinhos de uma das patas
também se quebraram pelo grande esforço que fazia nas suas tentativas. Passou
então a rolar sobre si e foi assim até o final de sua vida. Sobreviveu a uma
cirurgia para a retirada de um tumor contra todas as expectativas dos
profissionais que lhe atenderam, e manteve-se viva por mais de quinze anos, para
surpresa de todos que a conheciam.
Assim era a Sacha,
minha companheirinha incansável. Acostumei a tê-la do meu lado em todos os
momentos: quando trabalhava no escritório, quando cozinhava, quando estava pelo
pátio, e até quando ia dormir, num canto do quarto de onde ela podia me ver.
Sempre a carregava com a sua caminha, seu potinho de água e ali ela permanecia
inteiramente relaxada, observando atentamente a tudo, e reagindo quando algum
dos outros cães se aproximava. Quando
chegavam visitas ela latia e tentava se aproximar e participar de tudo,
especialmente quando era algum “conhecido”, a quem ela fazia questão de
cumprimentar.
O tempo, porém a venceu. Seus olhos antes tão curiosos e
atentos passaram a expressar medo e desconhecimento, como se não mais soubesse
onde estava. Apesar de abraçá-la e lhe falar com carinho, não mais conseguia
acalmá-la. As dores se acentuaram, ela passou a beber muita água e demonstrar
uma ansiedade e uma angústia que nos fazia sofrer junto. O câncer, que já tinha voltado a se
manifestar na pele e na sua boca, passou para o pulmão. Nada mais pode ser
feito a não ser permitir sua partida.
Aquela bolinha de pelo dourado e aqueles olhinhos vivos e
atentos já não mais nos acompanham, pelo menos nesse plano terrestre. Desejo
sinceramente que ela esteja em um lindo lugar aonde tenha conseguido voltar a
correr, latir, defender seu território com a saúde e a vitalidade de quando nós
a encontramos. Nós, neste lado ainda, conservaremos a lembrança de uma pequena
cadelinha dourada que viveu exclusivamente para a família que a acolheu, que
lhe amou e recebeu como pagamento o seu amor e devoção incondicional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário