Saí do consultório às pressas, sem dar a menor atenção à secretária
que correu atrás de mim para transmitir-me algum recado importante que julgava
importante. Importante para quem?
Não para mim. Naquele momento nada era mais importante do
que chegar ao local do encontro.
Mas tudo conspirava contra a minha pressa: todos os sinais
de trânsito mudaram desaforadamente para vermelho à minha aproximação, todos os
motoristas saíram lerdos àquela mesma hora, e se posicionaram justo no meu
trajeto. Só os ponteiros do relógio andavam depressa cada vez mais, roubando os
poucos minutos (eram sempre poucos!) que a vida concedia àqueles encontros
arrancados das garras da impossibilidade.
- Assim não vai dar tempo para nada, não vamos nem tomar um
lanche!
Ao murmurar essas palavras, dei-me conta de como a vida, em
sua infinita criatividade, oferece inusitados enredos para que cada um de n[os conheça
a mais ampla das sensações e das emoções, a despeito da especifica trajetória
de cada ser humano. Por tive a certeza de que a
ansiedade, a aflição com os segundos perdidos, a expectativa do encontro
eram sentimentos idênticos aos de uma mulher apaixonada que corre para os
braços de seu amante. Com uma vantagem: não havia em mim a menor sombra de
culpa
Afinal, eu corria ao encontro de minha neta de três anos
)que morava em outra cidade),, para pegá-la no consultório do pediatra e ficar
com ela algumas poucas horas depois da consulta, enquanto minha filha atendia a
compromissos em São Paulo.
( Lidia Aratangy , Livro
dos Avós, p. 19)
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