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sexta-feira, 26 de julho de 2013

AMORES CLANDESTINOS


Saí do consultório às pressas, sem dar a menor atenção à secretária que correu atrás de mim para transmitir-me algum recado importante que julgava importante. Importante para quem?

Não para mim. Naquele momento nada era mais importante do que chegar ao local do encontro.

Mas tudo conspirava contra a minha pressa: todos os sinais de trânsito mudaram desaforadamente para vermelho à minha aproximação, todos os motoristas saíram lerdos àquela mesma hora, e se posicionaram justo no meu trajeto. Só os ponteiros do relógio andavam depressa cada vez mais, roubando os poucos minutos (eram sempre poucos!) que a vida concedia àqueles encontros arrancados das garras da impossibilidade.

- Assim não vai dar tempo para nada, não vamos nem tomar um lanche!

Ao murmurar essas palavras, dei-me conta de como a vida, em sua infinita criatividade, oferece inusitados enredos para que cada um de n[os conheça a mais ampla das sensações e das emoções, a despeito da especifica trajetória de cada ser humano. Por tive a certeza de que a  ansiedade, a aflição com os segundos perdidos, a expectativa do encontro eram sentimentos idênticos aos de uma mulher apaixonada que corre para os braços de seu amante. Com uma vantagem: não havia em mim a menor sombra de culpa

Afinal, eu corria ao encontro de minha neta de três anos )que morava em outra cidade),, para pegá-la no consultório do pediatra e ficar com ela algumas poucas horas depois da consulta, enquanto minha filha atendia a compromissos em São Paulo.  

( Lidia Aratangy , Livro dos Avós, p. 19)

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