"Senhor juiz. Não lhe conheço pessoalmente, mas soube que o
senhor está decidindo o futuro de minha família. Papai e mamãe não querem mais viver
juntos. Eles me disseram que o casamento deles terminou, e vão deixar de ser
marido e mulher. Disseram ainda que o senhor vai decidir com quem devo morar.
Estou muito triste com isso, mas soube que os adultos às vezes têm dificuldade
de resolver as coisas e não conseguem ser felizes, assim resolvem buscar outros
caminhos. Queria pedir que o senhor fizesse meus pais compreender que eu não
tive culpa pelas coisas não terem dado certo. E que eu não pretendo me separar
deles. Acho que tenho metade de cada um, assim não tenho como me dividir. Quero
ter os dois perto de mim, sem que isso cause mais problemas entre eles. A minha
professora disse que isso se chama “guarda compartilhada”, e que, se os meus
pais quiserem, ou se o senhor decidir assim, posso continuar convivendo com os
dois, sem ter que escolher um como “titular” e o outro como “reserva”. Doutor
juiz, o senhor nunca me viu, mas algumas pessoas já vieram conversar comigo a
seu pedido, assim sei que o senhor sabe da minha existência. Sei também que o
senhor mandou que eu ficasse com minha mãe e visse meu pai de quinze em quinze
dias, nos finais de semana. Acontece que, às vezes, eu tenho vontade de ver meu
pai durante a semana, e estar com minha mãe em outros finais de semana. Só que
eu não posso dizer isso, porque eles ficam tristes, e até zangados um com o
outro. Ainda quero lhe pedir que o senhor se encontre mais seguido com eles,
parece que eles o respeitam muito, sua palavra e seus conselhos são como o de
um “pai emprestado” para eles. A minha professora também me disse que a
história de minha família esta num caderno no seu local de trabalho. Eu
gostaria de encapá-lo com um reluzente papel para que ele não fosse esquecido
no armário. O senhor vai decidir o fim de nossa história, mas está sendo
ajudado por outras pessoas, em especial pelos advogados de meu pai e de minha mãe.
Senhor juiz, faça com que todas essas pessoas que estão lhe ajudando não tornem
isso uma competição, e que elas entendam que nessa história, não existem
heróis, nem bruxas malvadas, nem devem ter vencedores de uma disputa. Nesse
final de história todos devem ganhar e, especialmente, as crianças que precisam
tanto do amor e da convivência dos seus pais. Acho, senhor juiz, que se a nossa
história não for bem resolvida, daqui alguns anos, eu estarei contando
outra história para o senhor resolver, dentro de outro caderno, e talvez o meu
caso seja mais triste ainda. Sinceramente- A criança do processo nº..."
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