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terça-feira, 19 de maio de 2009

Sobre direção e avaliação


Essas palavras são para os meus alunos que acabaram de passar por um processo de avaliação realizando as provas bimestrais. Sei que esse período é de ansiedade e de stress. Não tem como ser diferente, afinal é o momento em que nós, professores e alunos,temos um retorno sobre o resultado de um período de atividades constantes. Quero que vocês entendam que nós, professores, não somos indiferentes a esse resultado. Pelo contrário, ele também retrata nosso trabalho, ou seja, ele também nos avalia e, como em vocês, nos provoca sentimentos de alegria ou frustração. O que quero relatar é a experiência que tive recentemente de ser avaliada como aluna, depois de tanto anos estar somente no papel de avaliadora. Esse episódio me fez refletir e desejar dividir com vocês minhas conclusões. Fui avaliada como motorista. Parece engraçado, mas já nesse meu meio século de vida, necessitei buscar minha habilitação por imposição de minhas atividades. Fui reprovada por três vezes. Na primeira vez, apesar de meu instrutor garantir que eu estava pronta, fui traída pelo nervosismo. Após conseguir estacionar nas famosas balizas, ao tentar movimentar o carro, acabei por derrubar a baliza traseira, pois não me dei conta de que não havia soltado o freio de mão. Foi um vexame... Fui sumariamente reprovada. Muito frustrada e envergonhada, quinze dias depois (após novamente pagar aulas extras, locação de carro e mais uma taxa pelo exame), lá estava eu, entre os jovens, para mais uma tentativa. Novamente reprovei. Consegui fazer as manobras no estacionamento e toda orgulhosa comecei a transitar com o avaliador. Em determinada esquina, ao tentar entrar numa avenida, tive que parar no meio da pista, aguardando o trânsito do outro lado. Posicionei mal o carro e acabei atrapalhando o trânsito. O instrutor me levou a praticar uma manobra semelhante, e novamente não soube resolver àquela situação concreta. Fui reprovada mais uma vez. Porém aceitei o resultado, reconhecendo sinceramente que eu não sabia posicionar o carro de forma correta, ou seja, não aprendi essa importante lição. Marquei novas aulas e treinei muitas vezes essas manobras. Paguei todas as taxas e...mais uma prova. Dessa vez consegui dirigir e me portar adequadamente no trânsito, apesar do tempo chuvoso e de movimento intenso. Estava muito confiante e senhora de mim, certa de meu sucesso. Ao retornar, numa rua de mão dupla, o avaliador pediu para eu fazer virar à esquerda e entrar numa preferencial. Com pressa para voltar, observei que não vinha nenhum veículo, e muito lentamente avancei, sem colocar a primeira marcha. O avaliador chegou a comentar meu erro, mas achei que essa falha não tinha tanta importância. Grande engano...Fui novamente reprovada e, desta vez, fiquei inconformada. Nessa terceira tentativa o que me prejudicou foi o critério da avaliação: parar na preferencial significa reter completamente o carro com o freio, colocar a primeira marcha e só então sair. Não importa se vem ou não algum carro. Critério objetivo e irrecorrível, o erro é considerado grave e reprova sumariamente. Foram três tentativas, todas elas inexitosas por diferentes motivos: na primeira, despreparo emocional ou falta de amadurecimento; na segunda, despreparo técnico,ou seja, imperícia; na terceira vez, rigorismo no critério da avaliação. Vamos refletir transpondo essa experiência para a questão pedagógica no ensino formal. Qual o nosso papel, avaliadores e avaliados, para obtermos êxito e progressão no curso? Entendo que fundamentalmente é preciso saber o que se objetiva no curso. Isto é, considerar quais são as habilidades e competências necessárias para o profissional que se objetiva formar. O papel pedagógico deve buscar essa direção e, na avaliação formal, vamos tentar visualizar o resultado do trabalho desenvolvido. Assim, como na minha primeira reprovação, é preciso superar o estado “anormal”, ou seja, é preciso encarar a avaliação como um momento a mais dentro do processo, apenas mais uma etapa. Assim, nada se justifica o “pavor” e a “ansiedade” no momento das provas. Logicamente isto altera nossa capacidade e acabamos por fazer verdadeiras “bobagens”, que em momento normal de aula não faríamos. Por outro lado, devemos estar efetivamente capacitados, preparados para esse momento. Assim, se não estudamos, não nos concentramos, não acompanhamos as aulas, não temos como obter êxito. Isto também exige humildade. Ninguém sabe tudo, mas o que sabemos é produto de nosso esforço e dedicação. Assim, a minha segunda reprovação me ensinou isso. Eu “achava” que estava preparada, mas bastou uma situação diferente daquelas que eu havia vivenciado e não soube como agir. Isto é, o posicionamento do veículo na rua é um dos conteúdos “estudados” teoricamente, mas não soube aplicá-lo. Não tinha como ser aprovada. Já a terceira situação é a mais complexa, pois envolve basicamente a escolha de critérios para a avaliação. Aqui entra especialmente o papel do professor e da instituição. O critério adotado é rigoroso demais ou está sendo excessivamente brando? Só a experiência poderá nos mostrar a adequação das regras avaliativas. A minha terceira reprovação foi a mais difícil de aceitar, pois me senti injustiçada, mas sei que o avaliador foi honesto. Ele cumpriu as determinações do sistema. Esses critérios têm sido questionados pelos próprios instrutores das auto-escolas. Aqui a avaliação formal leva uma grande vantagem. Nossos critérios de avaliação não são tão objetivos assim. Conseguimos dosar nossas avaliações de acordo com o que desenvolvemos e enfatizamos em sala de aula. Porém, especialmente, a maior vantagem, é que nós os professores, orientadores e parceiros no processo de aprendizagem, é quem avaliamos nossos alunos. Delimitados por algumas regras objetivas, mas dispondo de maior liberdade na escolha dos instrumentos e regras do sistema avaliativo, pois fazemos parte desse processo e assumimos a responsabilidade que nos é dada no processo de formação de pessoas efetivamente capacitadas para a vida profissional que escolheram. O que nos preocupa é que vocês, que se preparam dentro da academia para a vida real, muito brevemente estarão enfrentando a avaliação competitiva e rigorosa, com os critérios totalmente objetivos e irrecorríveis, delimitado por regras pré-definidas com valores duvidosos. Nesses processos avaliativos nós, professores, não mais estaremos presentes, nosso papel no auxílio a esse enfrentamento se encerra quando lançamos a nota de vocês e os julgamos aprovados na disciplina, por isso, nosso nível de exigência no decorrer do curso deve ser valorizado e, inclusive cobrado por vocês. Vamos aproveitar esse tempo presente, ele é a preparação para o futuro.

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