14 LIVROS
Fiquei arrepiado ao ver a lista de itens pessoais do deputado federal paulista Rubens Paiva, preso pelo regime militar em 20 de janeiro de 1971.
Quando ele entrou nos porões da ditadura para
ser interrogado, entre seus itens pessoais, além de relógio, lenço e cartão de
banco, havia 14 livros de diversos autores.
Ele tinha a consciência de que iria morrer, mas
levou 14 livros para ler.
Ele tinha a consciência de que nunca mais
poderia olhar a luz do sol, mas levou 14 livros para ler.
Ele tinha a consciência de que seria torturado
pelos agentes da repressão, mas levou 14 livros para ler.
Ele tinha a esperança de ainda ler 14 livros,
apesar da sua morte iminente pelo DOI_CODI, apesar do seu desaparecimento certo
dali para diante.
A esperança nada tem a ver com as
circunstâncias. A esperança desafia as circunstâncias. A esperança é o nosso
caráter.
Ele queria continuar aprendendo. E levou seus
livros. Foi simples, foi verdadeiro. Com tempo ou sem tempo. Ele queria ler até
o último de seus suspiros.
O que Rubens Paiva nos ensina?
Mesmo que tenhamos um só dia de vida, podemos
amadurecer. Podemos melhorar. Podemos ampliar nosso conhecimento. Podemos nos
superar.
Mesmo que tenhamos um só dia de existência,
podemos plantar uma macieira, podemos amar melhor nossa mulher, podemos cuidar
com capricho dos nossos filhos, podemos nos reconciliar com os pais.
Um dia é muito.
Um dia é nossa vontade de entender o
mundo.
Um dia é nossa vontade de ser feliz.
Um dia são 14 livros.
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