Um minutinho, meu filho./ Já te ligo, amor./ Agora estou ocupado./ É uma
ligação importante.
Só que o filho cresce e para de nos procurar.
Só que o pai morre e não descobrimos o que ele queria.
Só que a esposa se
cansa da solidão e pede o divórcio.
Reclamamos da fila da Previdência, da
fila do SUS, da fila dos bancos. Mas os familiares vivem em fila para serem
atendidos dentro de casa.
É a fila do amor que não anda. Do amor que pensa que terá tempo em
seguida. O tempo adiante será o mesmo tempo de agora. A mesma falta de tempo.
Filhos pequenos são mendigos em seus quartos, esperando que você
desligue o telefone, que você preste atenção.
Maltratamos quem a gente gosta com adiamentos e desculpas. A vida passa
e a promessa de conversa não se realiza. E não sabemos o que o nosso menino
estudou, o que a mulher criou no trabalho, o que a mãe precisava comentar sobre
seu passado.
Abandonamos a família porque desejamos ter calma. Ter folga. Ter férias.
Melhor falar nervoso do que não falar. Melhor um pouquinho junto do que
nada. Melhor o rascunho do que a idealização.
Interrompa suas atividades para ouvir a família. Mesmo que seja rápido.
Mesmo que seja de qualquer jeito.
A conversa é do momento, a conversa é um momento.
É possível desistir de dizer. É possível perder a vontade.
Não existe como recuperar lembranças.
Cuide da família.
Agora!
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