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terça-feira, 22 de maio de 2012

Homem que broxa ao trair não foi infiel


Arte de Carlo Carrá

Fabrício Carpinejar
Fonte- Zero Hora
 


Todo homem que broxa em caso extraconjugal merece o perdão.



Uma escapadela do casamento com broxada não pode ser condenada. É um triunfo da monogamia.



A falta de ereção anula o crime, isenta o desvio, elimina a culpa. É como sessão de cinema no blecaute. Devolve-se o ingresso.



Se ele falhou com outra mulher, não foi infiel. Ofereceu a mais alta prova de adesão a um relacionamento estável.



O encontro não pode mais ser enquadrado como pulada de cerca. Pelo contrário, o sujeito fortaleceu a relação familiar, construiu um muro de proteção de sua intimidade. Negou a pretendente e – broxando – apagou esperança de reincidência.



De modo nenhum deve contrair vergonha do ato, esconder a informação, sonegar a cena. A broxada é uma medalha de honra ao mérito, uma distinção afetuosa, vale como tempo de serviço para as bodas de ouro.



Ao tentar trair e fracassar, demonstrou que realmente ama sua esposa. Foi uma prova incontestável de dependência. Uma declaração absoluta de lealdade. Um atestado de submissão amorosa.



Sacrificou-se para dar o exemplo e não gerar dúvidas de seu estado civil. Levou a aventura às últimas consequências. Testou a libido e recebeu o resultado negativo. Respondeu aos demônios da excitação com o desânimo da carne.



Broxou como quem escreve um testamento, como quem dedica seu suspiro ao quarto do casal.



Não foi fraco de fugir no bar. Não foi covarde de esnobar convite. Não desistiu, caminhou muito além das palavras. Provou mesmo que não queria com seu instrumento murcho, acabado, inofensivo.



Não é pouca a coragem. Recusou Viagra e paraísos artificiais, afrodisíacos e ceras amazônicas.



Num manifesto camicase, explodiu a reputação de comedor por uma causa nobre, a dizer alto e em bom som para sua companhia:



– Não adianta insistir, ninguém me excita a não ser minha esposa.



Desembainhou a espada pela paz, entrou na arena para não lutar. Experimentou a hombridade da rendição, a resistência dos santos no deserto.



Não usou atenuante, não mentiu, sequer fingiu, nem mergulhou no sexo oral para ganhar terreno, assumiu que não estava a fim, que não desejava aquilo, que tinha que regressar ao lar. Com coragem e cara limpa, sem hipocrisia, olhando nos olhos de sua presa.



Rejeitou a outra depois que ela tirou a roupa. Largou o flerte em plena nudez. Humilhou a amante com a frase mais monogâmica do mundo:



– Desculpa, eu não consigo.

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