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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A boa morte




Este texto foi escrito em agosto de 2007. Sadan, nosso grande amigo e companheiro, um rotweiller, morreu com uma injeção letal naquele mês. Foi uma das decisões mais dolorosas que tivemos de tomar. Somente quem já conviveu com um animal tão especial como ele pode entender nossos sentimentos.


Você está partindo... e a hora em que isso vai acontecer tem que ser decidida por nós. Nós que gostaríamos de ir antes de você. Os teus olhinhos, hoje quase escondidos, parecem dizer que sabe dessa decisão que deve ser tomada. Disseram-nos que essa é melhor opção, mas, o que é mais doloroso ainda é definir quando será essa hora. O sofrimento que você passa é também nosso sofrimento. Você que sempre soube nos alegrar, que sempre se preocupou conosco, você que nos ensinou o que é amizade, o que é fidelidade, o que é amor. Você, que durante oito anos, fez seu trabalho de forma admirável, protegendo nosso patrimônio, mas, especialmente, você que foi nosso maior companheiro, presença constante, silenciosa, e muito... muito terna e carinhosa.Vivemos um momento doloroso de nossas vidas, pois precisamos, voluntariamente, privar-nos da sua presença, porém, você está sofrendo e, dia-a-dia, esse sofrimento é maior. Deixará suas marcas conosco, sua coleira, seus tapetes, sempre oferecidos às visitas, seus pratinhos e vasilhas de água, a marca que você deixou no olho da gatinha, seu sofá preferido, sua coberta... Ficará a lembrança de seu latido, a nossa reação instintiva de fechar rapidamente o portão após entrar com o carro, pois você sempre procurava escapar nesse momento... Ficará o teu maior “inimigo”, que ainda hoje, quando você nem mais se levanta, vem procurá-lo no portão para mais uma “sessão de latidos”. Ficarão as fotos, as filmagens, as lembranças dos amigos, pois nenhum cão soube conquistar tantas pessoas como você. Porém, muito mais forte, ficará a tua imagem na nossa memória, pois nós, que já temos tanto tempo de vida a mais do que você, aprendemos muito com a sua companhia e devemos muito a você. Momentos de alegria, de carinho, de dedicação. Durante oito anos de nossa existência, você foi nosso melhor amigo. E agora temos que extinguir a tua vida. Dentro do seu corpo existe um inimigo implacável, cada vez mais visível e ameaçador. Agora sabemos que esse câncer é comum na tua raça, e que ele é incurável. Só podemos auxiliar no combate a sua dor. Essa doença avança de forma rápida demais, o que faz acelerar também nossa tomada de decisão. Decisão pela tua eutanásia, ou seja, pela tua “boa morte”. Você que nos deu uma “boa vida”, receberá de nós uma “boa morte”. É justo esse ônus que a vida nos impõem? Para nós é uma dor enorme, mas esse sofrimento, essa tomada de decisão, é o maior presente que podemos lhe dar: o alívio definitivo para você. Seus amigos, não donos, Renato e Bernadete.

Um comentário:

  1. Somente para quem passou por isso sabe a decisão de ter que pedir a alguém que leve um animalzinho para uma morte que parece ser o melhor a fazer. Será? Não é fácil abrir mão da esperança. A piedade talvez seja mais fácil com eles do que conosco. É uma dor que não acaba. Ao menos, sabendo que o melhor foi feito, fica um consolo.

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