No último dia 17 fez dez anos do falecimento de meu pai. Ele pode ser descrito como uma pessoa simples, sem instrução formal, mas sempre bem informado. Muito amoroso com suas filhas, a quem todos chamavam de “as filhas do Jerônimo”. Cinco filhas. Todas mulheres que encheram sua vida de maneira absoluta, pois, ao contrário de muitas famílias de minha geração, ele é quem permanecia em casa, mantendo um pequeno armazém, enquanto minha mãe saia para lecionar. Meu pai é lembrado por todos que o conheceram pelo seu senso de humor. Ele era simpaticamente irônico. Gostava de música e lembro seus ensaios de passos de dança para nos fazer rir. Brincou com as pessoas até o fim, inclusive com as enfermeiras no hospital. Meu pai morreu como criança. O mal de Alzheimer o fez regredir intelectualmente e isso, de certa forma, fez com ele se ligasse ainda mais às suas filhas, que passaram a ser suas mães. Lembro dele nos cuidando em momentos de doenças infantis. Ele tinha uma vocação inata para a Medicina. Gostava de ler sobre isso e tinha alguns livros de medicina natural. Fazia eu ler as bulas dos remédios e conhecia uma diversidade de chás que costumava recomendar e fornecer gratuitamente para todos que lhe procuravam. Ele era um ecologista, mesmo sem saber, era mestre em economizar. Gostava de frutas, gostava de caminhar, do ar livre, dos animais, de crianças e respeitava demais sua família. Tinha muitos defeitos, mas não lembro mais de nenhum. Tenho muitas saudades do “seu” Jerônimo. Gosto de manter comigo a imagem de seu santo homônimo. Procurei inclusive saber sobre a vida deste famoso tradutor da Bíblia. Descobri que tinha uma inteligência excepcional, estava à frente de seu tempo ( final dos anos 300 ) e deveria ser considerado o protetor dos pesquisadores, pois a sua vida foi dedicada a essa atividade. No candomblé sua imagem também é venerada. É relacionado a Xangô, entidade ligada às questões da justiça, do intelecto e do direito. Reconheço nestes atributos muitas características de meu pai.Mas afinal, o que é um pai? Os estudiosos das relações familiares apontam seu papel legal, social, econômico e afetivo. Dissertam sobre sua função e importância, e consideram que a relação paterna repousa num dado cultural. Para mim, “seu” Jerônimo foi um exemplo de pai: muitas vezes severo e exigente, mas amoroso, brincalhão e terno. Sua imagem nunca sairá da minha memória que é estimulada ainda mais pelo cheiro da erva-mate, das plantas medicinais, pelo gosto da jabuticaba e pelo som das músicas que cantava e dançava, nos fazendo rir.
Parabens pelo Blog!!! esta legalzinho num é para colocar fotos minha...
ResponderExcluirTia! Muito lindas as coisas que escreves aqui!!!
ResponderExcluirVou usar esse texto que fizeste sobre o Vô na decoupage do tarro de leite que você pediu para eu pintar, ok???
Beijos
Saudades!