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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Memórias de infância 1


Costumo dizer que minha geração foi muito privilegiada. Assistimos grandes revoluções tecnológicas e culturais.Lembro a primeira vez que cheguei próxima a um aparelho de TV, de quanto me admirei ao ver o funcionamento de um fax, do medo que senti ao tentar manipular um computador...Porém, uma das lembranças mais fortes que tenho de minha infância foi da chegada do homem à lua. Para minha geração aquele feito do homem era a verdadeira conquista do espaço. Na época eu tinha nove anos. Minha família tinha uma TV de marca Admiral, logicamente em preto e branco, lembro que tinha detalhes em jacarandá e demorava a funcionar, porque precisava “esquentar”. A programação iniciava no início da manhã e ia até tarde da noite. Mas o horário de assistirmos televisão era muito controlado, para não gastar muita luz. Aliás, na época, a energia elétrica era racionada pela companhia elétrica, mas principalmente pelo meu pai. Naquela noite de 20 de julho de 1969, porém, era uma exceção, e todos estávamos acordados próximo à meia noite. Foi então transmitida ao vivo, a chegada do homem à lua, conduzidos pela Apollo 11. Lembro que a imagem estava de cabeça para baixo (há quem duvide desta minha lembrança, mas a tenho como verdadeira). Houve uma grande emoção quando Neil Armstrong pisou na superfície lunar e fincou a bandeira americana. Os amigos de meu pai, que freqüentavam seu armazém apenas para “bater papo”, afirmavam que tudo era uma grande mentira, alguns achavam que era um pecado contra Deus, e houve quem condenasse esse feito porque achava que a lua tinha perdido todo seu encanto poético. Houve até mesmo histórias que alguém teria se suicidado e muitos defenderam que deveria haver outro marco na história do homem: o início de uma era espacial. Eu era uma das mais entusiasmadas, recortei vários artigos do jornal e lembro que só falava nisso. Decorei o nome dos três astronautas, que viraram heróis de minha infância. Na manhã seguinte ao grande acontecimento, foi correndo contar o que havia acontecido para minha idosa vó Noca, que me escutou pacientemente. Ela morava numa pequena casinha construída no pátio de nossa casa. Quando terminei de falar que tínhamos visto o homem pisar na lua de madrugada, ela me olhou e disse: então foi por isso que ouvi uns barulhos estranhos no pátio, de madrugada. Muitos criticaram o gasto extraordinário que os Estados Unidos tiveram com a corrida espacial, dizendo que esse dinheiro poderia ter servido para matar a fome do homem, aqui mesmo na Terra. Não sei se tinham razão, ou se a corrida espacial teve uma grande utilidade para a humanidade. O que tenho certeza é de que foi um dos momentos mais felizes que passei na minha infância e ao lado da minha família.

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