A história de Wellington e Nicolas emocionou o país. O pai revela como manteve o filho vivo debaixo dos escombros e como conseguiu dar água para ele com a própria boca.
A dona de casa Ilair revê um dos rapazes que salvou a vida dela com uma corda, em São José do Vale do Rio Preto. Tainá Medeiros, de 15 anos, a grávida que saiu da enchente para a maternidade, vai para casa da sogra com o filho recém-nascido no colo. E o gerente de hotel Wellington Guimarães conta pela primeira vez como manteve o filho Nicolas, que completou sete meses neste domingo (16), vivo debaixo da terra. A repórter Bette Lucchese reencontrou personagens marcantes da tragédia que arrasou a Região Serrana do Rio.
As imagens emocionaram o Brasil. São exemplos de superação em meio a tanto perigo, dor e medo. Na manhã deste domingo (16), quatro dias depois do soterramento, Nicolas, que hoje completa sete meses, continuava calmo como no momento do resgate. Ele e o pai, Wellington Guimarães, ficaram soterrados por 15 horas e sobreviveram a dois desabamentos. “Dou graças a Deus de ter perdido a noção do tempo. Tenho certeza de que foi Deus ali”, disse o pai.
Na última terça-feira (11), Wellington e a mulher, Renata, resolveram passar a noite na casa da mãe dela por causa da chuva. O casal, a sogra e o bebê estavam dormindo no mesmo quarto.
“Eu acordei com aquele barulho de coisa vindo e não lembro. Parece que eu tentei sentar na cama. De repente, tudo parou. Foi coisa de segundos, não deu tempo nem de gritar. A Renata e a Fátima faleceram na hora. Inclusive uma perna minha estava meio presa nela”, lembra Wellington.
Nicolas estava vivo, mas longe de Wellington. “Ele chorava, e eu não tinha como estar perto dele, porque eu estava com as pernas presas. Eu consegui tirar uma perna, e a outra estava mais embaixo. Foi quando eu comecei a chamar por socorro. Veio um rapaz e foi chamar o bombeiro”, continua Wellington.
Os bombeiros chegaram, mas não conseguiram resgatar pai e filho. “Eles ainda falaram: ‘cuidado com a barreira’. Eu fiquei imaginando que barreira só podia ser o morro. Quando eles acabaram de falar isso, não passou cinco minutos, desceu a queda e soterrou eles também”, disse o pai de Nicolas.
Era o segundo desabamento. “Eu não tenho noção de nada. Eu orei muito, pedi muito a Deus. Eu cavava cantando um hino de louvor a Deus. Minha mão está toda arrebentada”, disse Wellington, que cavou até chegar perto de Nicolas.
“No primeiro momento que eu o peguei, ele se acalmou. Eu juntava saliva na boca para dar a ele para, pelo menos, molhar a boca dele. Os bombeiros estavam com a máquina em cima. Então, eu percebi que eles estavam cavando com vontade, achando que não tinha ninguém. Ninguém dizia que tinha alguém vivo ali. Eles chegaram bem perto. Chegou abrir um feixe de luz sobre a madeira. Eles perguntaram: ‘tem alguém?’. Eu disse: ‘estou eu e meu filho’. Eles disseram: ‘vocês estão bem?’. Eu disse que estávamos. Eles perguntaram: ‘tem mais alguém?’. Eu disse: ‘tem, minha esposa e minha sogra, mas elas estão mortas’”, lembra.
“Então, eles conseguiram abrir um buraco e me deram água. Ele engasga muito com água. Então, eu botava água na boca e dava na boca dele. Aquele primeiro contato que ele viu que era água, ele agarrava no meu rosto e abria a boca, igual a ele pede comida para pedir água. Com a língua, eu controlava a água que ele bebia, ele mamava na minha língua. Assim que eu fui hidratando ele, e ele bebeu tanta água que dormiu. Depois, ele acordou e pediu água de novo, agarrava no meu rostinho. Quando teve um pouco de claridade, a gente conseguiu ver um ao outro”, conta Wellington.
Abraçados, pai e filho esperaram pelo salvamento. “Ele ficava quietinho no meu colo. Quando eu dei ele, ele saiu rindo. Dentro da ambulância, ele estava conversando”, lembra
Na quarta-feira, enquanto bombeiros tentavam resgatar pai e filho, Tainá Medeiros, de 15 anos, dava à luz. Apesar de prematuro, Marcos André nasceu com saúde. No sábado (15), o Fantástico reencontrou mãe e filho, minutos antes de receberem alta do hospital.
Tainá estava chorando: “Eu estou sem casa, sem nada. E eu também não quero ficar sem a minha mãe, porque foi ela que me ajudou. Ela está no abrigo, e eu não posso, porque meu neném é prematuro. Para onde que eu vou não tem quase lugar, vou ficar na casa da minha sogra”.
A história de Tainá comoveu, e muitas pessoas mandaram presentes para Marcos André. “A solidariedade foi muito importante, porque eu não tinha nada e ele também não”, comentou Tainá.
Dona Ilair também recomeça do zero. Ela perdeu tudo: casa, móveis, eletrodomésticos e recordações da família. Ela está viva por causa do empenho de vizinhos, como
O vidraceiro Gilberto Branco Faraco.
Gilberto - Foi Deus que te salvou, não foi a gente.
Dona Ilair –Primeiramente, foi Deus, depois foi você e aqueles outros colegas.
Gilberto – Se não fossem aquelas cordas que tivessem lá, o telhado caia em cima de você.
Se a chuva fosse dois dias antes, a corda não estaria lá. “Estava no andaime. O cara começou a pintar segunda-feira. Não tinha corda, não tinha nada lá em cima. Na segunda-feira, ele começou a pintar o prédio e deixou a corda na cadeirinha”, lembra Gabriel.
“Aí jogaram a corda, eu amarrei rápido, mas nem sei como é que eu dei aquele nó, porque eu não sei dar nó. Gritaram para mim: ‘Passa por baixo das pernas’, e eu passei. Falei que podia puxar e me joguei. Mas a água veio e me pegou. Eles gritaram: ‘Puxa depressa que ela vai morrer’. Quando eu cheguei, meu bichinho desceu. Ele me mordeu, e eu não consegui salvar a vida dele”, lembra Lair. “A minha mão escorregava, mas eu puxava mais para cima e segurava. Eu falava: ‘Meu Deus, me dá força para chegar até aquele prédio’”.
Um monte de destroços foi o que sobrou da casa onde estava Dona Ilair. A dona de casa foi erguida do alto de um prédio. Se o salvamento tivesse durado mais alguns minutos, ela poderia ter sido atingida pelo tronco de uma grande árvore. Na hora, um buraco se abriu na parede, e o prédio balançou.
“A gente conseguiu sair em um barco que um vizinho arrumou e uma escada para nós descermos. Senão a gente estava lá até hoje”, comentou Ilair.
Fonte- globo.com
A dona de casa Ilair revê um dos rapazes que salvou a vida dela com uma corda, em São José do Vale do Rio Preto. Tainá Medeiros, de 15 anos, a grávida que saiu da enchente para a maternidade, vai para casa da sogra com o filho recém-nascido no colo. E o gerente de hotel Wellington Guimarães conta pela primeira vez como manteve o filho Nicolas, que completou sete meses neste domingo (16), vivo debaixo da terra. A repórter Bette Lucchese reencontrou personagens marcantes da tragédia que arrasou a Região Serrana do Rio.
As imagens emocionaram o Brasil. São exemplos de superação em meio a tanto perigo, dor e medo. Na manhã deste domingo (16), quatro dias depois do soterramento, Nicolas, que hoje completa sete meses, continuava calmo como no momento do resgate. Ele e o pai, Wellington Guimarães, ficaram soterrados por 15 horas e sobreviveram a dois desabamentos. “Dou graças a Deus de ter perdido a noção do tempo. Tenho certeza de que foi Deus ali”, disse o pai.
Na última terça-feira (11), Wellington e a mulher, Renata, resolveram passar a noite na casa da mãe dela por causa da chuva. O casal, a sogra e o bebê estavam dormindo no mesmo quarto.
“Eu acordei com aquele barulho de coisa vindo e não lembro. Parece que eu tentei sentar na cama. De repente, tudo parou. Foi coisa de segundos, não deu tempo nem de gritar. A Renata e a Fátima faleceram na hora. Inclusive uma perna minha estava meio presa nela”, lembra Wellington.
Nicolas estava vivo, mas longe de Wellington. “Ele chorava, e eu não tinha como estar perto dele, porque eu estava com as pernas presas. Eu consegui tirar uma perna, e a outra estava mais embaixo. Foi quando eu comecei a chamar por socorro. Veio um rapaz e foi chamar o bombeiro”, continua Wellington.
Os bombeiros chegaram, mas não conseguiram resgatar pai e filho. “Eles ainda falaram: ‘cuidado com a barreira’. Eu fiquei imaginando que barreira só podia ser o morro. Quando eles acabaram de falar isso, não passou cinco minutos, desceu a queda e soterrou eles também”, disse o pai de Nicolas.
Era o segundo desabamento. “Eu não tenho noção de nada. Eu orei muito, pedi muito a Deus. Eu cavava cantando um hino de louvor a Deus. Minha mão está toda arrebentada”, disse Wellington, que cavou até chegar perto de Nicolas.
“No primeiro momento que eu o peguei, ele se acalmou. Eu juntava saliva na boca para dar a ele para, pelo menos, molhar a boca dele. Os bombeiros estavam com a máquina em cima. Então, eu percebi que eles estavam cavando com vontade, achando que não tinha ninguém. Ninguém dizia que tinha alguém vivo ali. Eles chegaram bem perto. Chegou abrir um feixe de luz sobre a madeira. Eles perguntaram: ‘tem alguém?’. Eu disse: ‘estou eu e meu filho’. Eles disseram: ‘vocês estão bem?’. Eu disse que estávamos. Eles perguntaram: ‘tem mais alguém?’. Eu disse: ‘tem, minha esposa e minha sogra, mas elas estão mortas’”, lembra.
“Então, eles conseguiram abrir um buraco e me deram água. Ele engasga muito com água. Então, eu botava água na boca e dava na boca dele. Aquele primeiro contato que ele viu que era água, ele agarrava no meu rosto e abria a boca, igual a ele pede comida para pedir água. Com a língua, eu controlava a água que ele bebia, ele mamava na minha língua. Assim que eu fui hidratando ele, e ele bebeu tanta água que dormiu. Depois, ele acordou e pediu água de novo, agarrava no meu rostinho. Quando teve um pouco de claridade, a gente conseguiu ver um ao outro”, conta Wellington.
Abraçados, pai e filho esperaram pelo salvamento. “Ele ficava quietinho no meu colo. Quando eu dei ele, ele saiu rindo. Dentro da ambulância, ele estava conversando”, lembra
Na quarta-feira, enquanto bombeiros tentavam resgatar pai e filho, Tainá Medeiros, de 15 anos, dava à luz. Apesar de prematuro, Marcos André nasceu com saúde. No sábado (15), o Fantástico reencontrou mãe e filho, minutos antes de receberem alta do hospital.
Tainá estava chorando: “Eu estou sem casa, sem nada. E eu também não quero ficar sem a minha mãe, porque foi ela que me ajudou. Ela está no abrigo, e eu não posso, porque meu neném é prematuro. Para onde que eu vou não tem quase lugar, vou ficar na casa da minha sogra”.
A história de Tainá comoveu, e muitas pessoas mandaram presentes para Marcos André. “A solidariedade foi muito importante, porque eu não tinha nada e ele também não”, comentou Tainá.
Dona Ilair também recomeça do zero. Ela perdeu tudo: casa, móveis, eletrodomésticos e recordações da família. Ela está viva por causa do empenho de vizinhos, como
O vidraceiro Gilberto Branco Faraco.
Gilberto - Foi Deus que te salvou, não foi a gente.
Dona Ilair –Primeiramente, foi Deus, depois foi você e aqueles outros colegas.
Gilberto – Se não fossem aquelas cordas que tivessem lá, o telhado caia em cima de você.
Se a chuva fosse dois dias antes, a corda não estaria lá. “Estava no andaime. O cara começou a pintar segunda-feira. Não tinha corda, não tinha nada lá em cima. Na segunda-feira, ele começou a pintar o prédio e deixou a corda na cadeirinha”, lembra Gabriel.
“Aí jogaram a corda, eu amarrei rápido, mas nem sei como é que eu dei aquele nó, porque eu não sei dar nó. Gritaram para mim: ‘Passa por baixo das pernas’, e eu passei. Falei que podia puxar e me joguei. Mas a água veio e me pegou. Eles gritaram: ‘Puxa depressa que ela vai morrer’. Quando eu cheguei, meu bichinho desceu. Ele me mordeu, e eu não consegui salvar a vida dele”, lembra Lair. “A minha mão escorregava, mas eu puxava mais para cima e segurava. Eu falava: ‘Meu Deus, me dá força para chegar até aquele prédio’”.
Um monte de destroços foi o que sobrou da casa onde estava Dona Ilair. A dona de casa foi erguida do alto de um prédio. Se o salvamento tivesse durado mais alguns minutos, ela poderia ter sido atingida pelo tronco de uma grande árvore. Na hora, um buraco se abriu na parede, e o prédio balançou.
“A gente conseguiu sair em um barco que um vizinho arrumou e uma escada para nós descermos. Senão a gente estava lá até hoje”, comentou Ilair.
Fonte- globo.com
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