Total de visualizações de página

domingo, 28 de março de 2010

A crônica de Juremir Machado sobre o caso Isabelle


Eis uma lúcida análise do caso de Isabelle:
O casal Nardoni
Esta foi a semana do grande circo da mídia e da justiça em torno do caso Nardoni. O julgamento em si não me interessou. O Tribunal do Júri é um grande teatro no qual a retórica e a emoção devem contar mais do que evidências técnicas. Já imaginaram se tivesse sido mostrado ao vivo na televisão? Bateria qualquer reality show em audiência. A única coisa que realmente me chama atenção nesse episódio lamentável é a falta de confissão. Eu não sei se os Nardoni mataram ou não a menina. A leitura dos jornais não me permitiu formar uma convicção. É muito provável que eles tenham cometido o crime. Mas o verossímil pode não ser verdadeiro. A acusação montou a sua tese. A defesa tratou de gerar contra-argumentos. A mídia tomou partido desde o primeiro instante. Normal. O que me impressiona na falta de confissão é a possibilidade da culpa. O ser humano é complexo. Brutalmente complexo. Simplesmente complexo. A sua extrema complexidade pode levá-lo a agir como um simples animal irracional. O problema é que eu custo a imaginar um pai mentindo sobre o assassinato da filha. Conseguiria um pai mentir sempre a respeito de um assunto dessa natureza? Atravessaria os dias e as noites sem explodir? Faria isso por amor a uma mulher? Como viver com um tal segredo? Pode ser uma estratégia de defesa, mais ou menos como o adúltero que nega seu ato contra todas as evidências. Seres normais, no entanto, costumam sentir culpa. E a culpa é um instrumento de tortura. Ela cresce dentro da pessoa como um fermento maligno. É terrível. Uma madrasta que mata a enteada e um pai que se torna cúmplice do crime parecem-nos imediatamente monstros. Uma hipótese atenuante é sempre a da derrapagem, o “incidente” que se transforma num acidente fatal. O mais incompreensível, porém, é a negação permanente. A madrasta olhou nos olhos do Brasil inteiro, num programa de televisão, e jurou a sua inocência. Nos longos meses de prisão, entregue aos seus fantasmas, não terá jamais sentido vontade, ou necessidade, de liberar-se desse peso desumano ou inumano? Nem aos seus defensores terá dito a verdade? Ou, num caso desses, o advogado prefere nem saber? Esse é um mundo misterioso. O paradoxo do caso Nardoni é este: a confissão levaria obviamente à condenação e ao opróbrio popular. A falta de confissão levará a uma inapelável condenação: ser considerados como monstros de uma frieza inigualável. Só a confissão os absolveria um pouco. Poderia explicar as condições em que o ato foi praticado. Salvo se as condições forem ainda mais frias. Resta pensar, num excesso de generosidade, que um pai não pode jamais confessar participação no assassinato de um filho. Seria essa a suprema condenação? Carregar para sempre esse terrível segredo? Sofrer para sempre a tortura de saber o indizível? Depois de dar tratos a bola, revirando o assunto por todos os lados, a única conclusão que se agiganta na minha cabeça é de uma simplicidade extraordinária: o ser humano não é confiável. Nunca será. Tudo isso eu disse em minha coluna do Correio do Povo desta sexta-feira.
Acrescento um prognóstico: os Nardoni serão condenados sem provas conclusivas por 7 a 0.
Postado por Juremir Machado da Silva - 26/03/2010

Fonte-http://www.correiodopovo.com.br/Opiniao/?Blog=juremir%20machado%20da%20silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário