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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sobre professores e alunos-Parte 1


Sou professora deste 1977. Já passei por todos os níveis de ensino: crianças, adolescentes, jovens e adultos. Lecionei na rede municipal, estadual, federal e na rede particular de ensino. Também trabalhei na Supervisão de Ensino, junto à Secretaria Municipal de Educação. Além disso, integro uma família de professores: minha mãe foi professora, minhas irmãs, meu marido, minha filha, meu filho, meus sobrinhos. Assim, acho que tenho um certo conhecimento da questão educacional. A atividade de educador sempre foi exaltada como uma missão, mas, sinceramente, eu não a encaro assim. Ser professor é uma profissão e é dela que eu e muitos de minha família tiramos nosso sustento. Se ela apresenta peculiaridades diferenciadas, como maior responsabilidade e maior visibilidade social, isso não significa que somos missionários. A cobrança da sociedade é muito forte sobre a nossa atuação. Sempre será escolhida a manchete: “professor cometeu tal ato ou infração...", ao invés de “fulano de tal cometeu tal ato ou infração...” Por outro lado, o nível de exigência sobre o professor é enorme, não só da família, mas por parte dos alunos, das autoridades educacionais, da imprensa, enfim, da sociedade em geral. No sistema público de ensino, o professor passa por privações materiais, desde as condições físicas da escola, recursos pedagógicos, seu próprio salário e pelo acentuado e progressivo problema da má-conduta dos alunos. No ensino privado, os problemas não são muito diferentes, ainda somado ao expressivo número de casos de assédio moral no ambiente de trabalho e o stress da negociação anual ou semestral sobre a carga horária, ou mesmo a manutenção do próprio emprego. É comum ouvirmos nas conversas de grupos de alunos expressões indicativas à pessoa do professor como “aquela naja”, “aquela vaca”, “aquele louco”... e por aí afora. Em audiência no Juizado Especial Criminal ouvi de um juiz o seguinte comentário: “o que está acontecendo com as escolas, cada vez aumentam mais os casos que aqui chegam e que poderiam ser resolvidos lá mesmo...”. No dia de hoje, há uma notícia no jornal “Correio de Povo” sobre a agressão feita por um adolescente de 13 anos ao seu professor, em uma escola de Porto Alegre. Recentemente uma professora que aplicou uma medida disciplinar a um aluno, teve que se explicar em rede nacional, provocando as mais variadas manifestações, na sua maioria favoráveis a sua conduta, o que não impediu de estar respondendo processo judicial por expor o aluno a uma situação vexatória. Sabemos que vários professores recém-nomeados na rede municipal de ensino de Porto Alegre estão desistindo do cargo, apesar de ser uma das melhores remunerações na área. O número professores encaminhados para perícias na busca do afastamento da sala de aula na rede estadual de ensino é assustador. Onde vamos parar? A educação formal é reconhecida como uma instituição absolutamente necessária, esse fato faz parte de qualquer programa político partidário e é o grande mote dos discursos políticos. Sem educação e sem conhecimento não há futuro para o país, essa é a opinião unânime da sociedade. Então, é preciso que a sociedade se conscientize disso e interfira no processo de degradação pelo qual se encaminha o ensino formal. Temos que repensar a estrutura do sistema de ensino, temos que repensar a prática pedagógica, temos que repensar a organização e a gestão escolar, mas, principalmente, temos que discutir, intervir e priorizar a educação de forma efetiva. Podemos então começar pela análise reflexiva e crítica a partir dos fatos que vem ocorrendo no ambiente escolar. Voltaremos ao tema. Aguardo manifestações.

Um comentário:

  1. O governo federal já está oferecendo incentivos para que se opte pelo magistério, pela preocupação da carência de profissionais .

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