"Estou morta.Viva mas "morta para". Morta agora para as vaidades e muitos sentimentos. Fico longe das alegrias e do tumulto do século, do que eu temia assim como do que eu prezava.Será essa uma vantagem da infelicidade? Acabei com minhas pequenas tristezas e meus grandes acessos de timidez. Quando uma pessoa se divorcia do marido ( e com ele duma família, duma casa, das alegrias do passado e dos sonhos do futuro), pode divorciar-se de tudo: de sua época, seus amigos, seus pais, seus leitores, seus filhos,e mesmo de seu marceneiro! Nada mais é indispensável. Uma vez que não faço falta a ele, não a sinto de ninguém...Somente o mal que ele me fez me perpentence; a dor ainda se mistura com o abrandamento, como a neve se derrete ao sol; tempo virá em que não havarei de compreender as linhas que escrevo agora e renegarei um livro no qual, na maior boa fé, não vou me reconhecer"... Esse texto faz parte do relato que Catherine, personagem no livro "A primeira Esposa" de Françoise Chandernagor, da editora Literalis, faz ao descrever seus sentimentos no momento em que desperta lentamente para a vida após um traumático processo de divórcio, e onde precisa reencontrar dentro de si a mulher e a individualidade que sempre existiu abafada pela vivência conjugal. Vale a pena ler essa obra que retrata a dor da separação de um casamento de vinte e cinco anos.
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