A derrota do Brasil na etapa eliminatória da Copa de Mundo e o escândalo envolvendo o goleiro Bruno do Flamengo devem ser objeto de reflexão por todos os brasileiros, em especial aos formadores de opinião que integram a mídia. A filosofia “ganhar ou ganhar”, herdada pelos brasileiros desde que o Brasil começou a se destacar no esporte futebolístico, certamente não produz bons frutos. O trabalho feito anteriormente é totalmente desvalorizado, o espírito competitivo é fortalecido de forma irracional, despertando os mais primários instintos da pessoa humana. Um exemplo claro dessa postura é o tratamento recebido pelo ex-treinador Dunga, da Seleção. A derrota do time numa etapa eliminatória (mata-mata) desqualificou todo um trabalho anterior, onde, segundo estou informada, o Brasil jamais teria alcançado resultados idênticos. A campanha feita pelos programas humorísticos, e mesmo os esportivos, na televisão, onde se repete incessantemente o bordão “Dunga burro”, ministra uma ideia de que, quem não consegue o seu objetivo final, é ignorante, deve ser banido, merece o desprezo. Por outro lado, aqueles que alçam os degraus da fama, reconhecidos pelo dom do esporte, são alçados ao cargo de semi-deuses, e deles se pode permitir que ultrapassem inclusive a fronteira da legalidade. Não recordo exatamente dos detalhes, mas lembro do fato em que um jogador, retornando ao Brasil após a conquista de uma das copas, foi barrado no aeroporto por trazer mercadorias do estrangeiro sem ter feito o pagamento da taxa de importação. Houve uma crítica generalizada sobre a atitude das autoridades federais que causaram tal aborrecimento a um ídolo nacional. Imagino se tal fato acontecesse com um dos jogadores da atual seleção, ou mesmo com o Dunga. Acho que seria defendida a sua prisão, sob aplausos da maioria da população. Chamou-me atenção a expressão de surpresa usada pelos apresentadores do Programa Fantástico, ao divulgar que Dunga foi aplaudido ao chegar no aeroporto de Porto Alegre. Essa filosofia de “ganhar ou ganhar”, que na verdade é reproduzida nos campeonatos de futebol estaduais e nacionais, e fortalecida pela mídia, é a causadora da violência entre as torcidas, entre os próprios jogadores, desmotiva as crianças e os adolescentes, que passam a encarar o esforço a longo prazo como tempo perdido, prejudicando todo um processo educacional e de busca de valores éticos e morais. Foi sintomática a referência feita pelo goleiro Bruno ao comentar as conseqüências do hediondo crime em que se envolveu: apenas lamentou o prejuízo na sua carreira em não mais poder participar da Copa do Mundo. Não seria surpresa se, no caso de sua absolvição, ele ainda venha a vestir a camisa amarela e venha a ser aclamado em 2014.
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