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sexta-feira, 30 de julho de 2010

O prazer de advogar


Não sei exatamente o que atrai tantos jovens para o curso de Direito. Percebo apenas que muitos deles não sabem exatamente o que pretendem após a conclusão do curso. Por várias vezes ouvi manifestações de menosprezo por aqueles que, ao concluir a graduação, passam “simplesmente a advogar”, como se a aprovação em algum concurso público fosse uma obrigação do bacharel em Direito. No entanto advogar é uma das mais nobre atividades profissionais. Tão relevante como a Medicina, o Magistério, a Psicologia, ou qualquer outra área a serviço do homem.
Tratamos dos problemas que afetam a vida pessoal ou patrimonial das pessoas. Problemas que interferem acentuadamente na sua rotina, prejudicam suas atividades e, muitas vezes, podem afetar sua saúde mental e até mesmo física. Nossa busca é por um dos maiores valores almejados pela humanidade: a realização da Justiça.
É preciso que o prazer de advogar seja descoberto, divulgado e valorizado. O prazer de desvendar o caso concreto, clarear seus pontos relevantes e decisivos e conseguir adequar essa realidade ao Direito, desvelando nas normas e nos princípios jurídicos a resolução do problema. Conseguir fazer essa relação e encontrar a forma certa de expressá-la, através da argumentação jurídica. É prazerosa a descoberta daquele ensinamento jurídico trazido pela doutrina adequado ao nosso interesse casuístico; encontrar a decisão jurisprudencial que decidiu favoravelmente um caso análogo ao que estamos trabalhando; arquitetar um texto, mesmo que simples, mas claro, objetivo e convincente, capaz de fundamentar adequadamente nossa tese e depois, quem sabe, ser até mesmo referido na decisão judicial como uma das motivações da sentença. Mais ainda, a possibilidade de descobrir rumos inéditos na construção do Direito, através da inovação jurisprudencial, o que pode ser considerado como nossa “obra prima”.
Essas atividades rotineiras na profissão do advogado são comparáveis ao momento em que um médico consegue o diagnóstico correto, através da análise de um exame laboratorial, ou mesmo da eficiente tradução dos sintomas apresentados pelo paciente, abrindo os primeiros caminhos para a cura; ou quando o professor consegue detectar, através da avaliação do processo educacional, o fator impeditivo da aprendizagem de seu aluno, decidindo pela instrumentalização pedagógica adequada para a superação do problema. Na Psicologia, esse momento é comparável ao momento em que o psicólogo consegue desvendar o fator desencadeador dos traumas de seu paciente e traça os caminhos adequados para o tratamento. São momentos rotineiros, mas norteadores e indispensáveis para o êxito profissional.
Costumo dizer para meus alunos, especialmente para os estagiários, que aquele caso jurídico no qual estamos trabalhando, para nós pode ser apenas um a mais. Para nosso cliente porém, é a coisa mais importante de sua vida. Ele acorda pensando no seu processo, passa o dia inteiro sem desligar desse problema e, quando consegue dormir, sonha com ele.
Noto que, com a democratização do acesso aos andamentos processuais através do acompanhamento pela INTERNET, essa tensão é ainda maior, pois o próprio cliente acompanha passo a passo seu processo e, muitas vezes ele não consegue traduzir a terminologia técnica divulgada. Assim, a responsabilidade do advogado aumentou, não apenas na obrigação de atendimento aos prazos ou à agilização processual, mas também na tarefa de manter nosso cliente informado.
O trabalho do advogado é uma missão de relações humanas delicadas. Estamos participando de um momento da vida do nosso cliente em que ele está fragilizado e nos vê como uma verdadeira “tábua de salvação”, por isso um espírito ético e humanitário deve integrar nossa postura profissional. Temos que ter consciência da responsabilidade de nossa tarefa. Apesar dela ser árdua e trabalhosa, tem nuances prazerosos e, se não conseguirmos visualizá-los, estamos na profissão errada.

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