Total de visualizações de página

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cidade das Viúvas

A novela "Caminho das Índias" despertou a curiosidade dos brasileiros sobre uma cultura totalmente diferenciada, onde se encontram muitos resquícios da família patriarcal antiga. Chama a atenção a absoluta desigualdade que lá impera, mesmo que a legislação tente resolver essa questão, a norma é superada pelos costumes. Já comentamos sobre o casamento infantil, mas a novela também chamou atenção sobre o tratamento dado às viúvas, o que nada mais é do que um dos efeitos da desigualdade absoluta entre homens e mulheres. Quando o marido morre, uma hindu deve fazer votos de castidade, que incluem raspar a cabeça e usar vestes brancas. Muitas partem para cidades sagradas para o hinduísmo, principalmente Vrindavan, perto de Délhi. Apelidada de "Cidade das Viúvas", lá as mulheres moram em viuvários. Algumas são expulsas pela família por não terem como contribuir com as despesas. Outras saem porque se sentem desprotegidas sem o marido. Cerca de 8% de todas as mulheres da Índia são viúvas, o que significa cerca de 34 milhões de pessoas. Como o costume é o casamento das meninas muito novinhas, 50% das viúvas têm menos de 50 anos de idade. No grupo acima de 60 anos, 64% das mulheres são viúvas, enquanto que apenas 6% dos homens são viúvos. Essa diferença brutal de gênero existe por causa da alta incidência de viúvos que se casam novamente, enquanto que um novo casamento, na prática, continua sendo uma opção bastante improvável para as mulheres. Já em 1956, um ato hindu estabeleceu que as viúvas devem ser consideradas iguais a todas as mulheres, mas a tradição fala mais alto. Por causa de todas privações que passam, as viúvas têm um índice de mortalidade 85% maior que as mulheres casadas. Apesar das péssimas condições dessas "Casas de Viúvas", muitas preferem viver nelas do que ficar com a família do ex-marido, sendo constantemente abusadas sexual e fisicamente. As "Casas de Viúvas" são empreendimentos mercenários, existem denúncias de que, apesar das mulheres viverem em completa miséria, os administradores fazem muito dinheiro, pedindo ajuda financeira e vendendo serviços sexuais das jovens viúvas.
O filme “As margens do Rio Sagrado” (Water- 2005), o último da trilogia política da cineasta Deepa Mehta (os outros são Fire e Earth), mostra a vida das viúvas na India » Sinopse: Aos 8 anos de idade, na Índia dos anos 30, Chuyia não é apena casada: é já viúva. E nunca conheceu o marido. De acordo com a tradição, Chuyia é enviada para uma casa que acolhe viúvas - uma casa onde estas são obrigadas a ficar, isoladas da sociedade, até ao final das suas vidas, sem que possam alguma vez voltar a casar. Lá, conhece Kalyani, uma bela e jovem viúva de quem se torna amiga, que ousa desafiar as regras apaixonando-se por um jovem. Também ele está disposto a confrontar-se com a tradição instituída.
O filme começa com a seguinte citação:“Uma viúva deve sofrer prolongadamente até sua morte, auto-contida e casta. Uma esposa virtuosa que se mantém casta quando seu marido morre vai para o céu. Uma mulher que é infiel a seu marido renasce no ventre de um chacal”(As Leis de ManuCapítulo 5 versículos 156-161Dharamshastras -Textos Sagrados Hindus), e termina com a informação “Há 34 milhões de viúvas na Índia segundo o Censo de 2001, muitas continuam a viver sob condições sub-humanas, como prescrito 2000 anos atrás nos textos sagrados de Manu.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário